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Calos e Calosidades


Os calos e as calosidades são as lesões mais comuns encontradas nos pés. São lesões diretamente relacionadas com as áreas de contato, fricção e pressão que os pés são submetidos quando caminhamos, saltamos ou usamos calçados.

Existem inúmeras causas que favorecem a formação de calos e calosidades nos pés.  Por isso é importante a avaliação de um especialista para definir melhor os fatores que estão envolvidos nessas lesões, uma vez que os tratamentos podem variar e terem uma abordagem completamente diferente

Os calos e as calosidades se formam pelo aumento da produção de queratina, uma proteína que forma a camada mais superficial da pele, causada pela estimulação mecânica intermitente dessa camada por fricção ou aumento da pressão.       

O calo ou heloma é uma lesão reacional da pele, localizada em pontos bem definidos de fricção e pressão, com bordas bem delimitadas e dolorosa à palpação direta do local.

 

 

A Calosidade ou Tiloma é uma lesão reacional hiperqueratótica mais ampla que o calo. Localizada em áreas maiores de fricção e pressão, com bordas mais tênues, que abrangem normalmente uma área mais extensa, e apresenta sintomas dolorosos mais difusos.

 

 

Metatarsalgia, calos e calosidades estão intimamente ligados. Apresentam-se frequentemente em conjunto e causam dor e desconforto para o paciente.

 

Calos (Helomas):

Os calos podem estar presentes em diversos locais no pé. Normalmente ocorrem em regiões onde existem protuberâncias ósseas, como as articulações e as cabeças metatarsais, que formam pontos de contato e atrito mecânico com o solo ou calçado. Entretanto, o atrito da própria pele entre as duas faces do espaço interdigital, principalmente na sua porção mais proximal, pode causar uma hiperqueratose, muitas vezes com maceração e infecção tecidual secundária, formando o calo intertriginoso.

Podemos encontrar vários termos para descrever os calos. Calo duro, Heloma Durum, Clavus Durum e hard corn, referem-se principalmente às calosidades fora do espaço interdigital, como as calosidades digitais dorsais ou a calosidade lateral do 5º dedo. Calo mole, Heloma Molle, Clavus Molle, calo em espelho, kissing Corn e Soft Corn, são termos encontrados para descrever as calosidades interdigitais. O calo intertriginoso também pode ser confundido como calo mole e é chamado mais precisamente na língua inglesa como Web Space Corn. Evitamos usar a terminologia grega ou latina hoje em dia, assim como a diferenciação de textura ou consistência, pois não existe diferença histológica entre as lesões.

 

Calos Digitais:


Os calos digitais estão diretamente relacionados com o uso de calçados fechados e com as deformidades articulares que ocorrem nos dedos dos pés.

O joanete, ou Halux Valgus, é a deformidade mais comum que acomete o primeiro dedo. É uma deformidade progressiva que durante sua evolução desvia e rota a articulação, favorecendo o crescimento de uma eminência medial chamada de bunion. Tanto a rotação como o bunion criam pontos de contato e atrito capazes de formar calos dolorosos, principalmente com o uso de calçados fechados.

 

 

O tratamento conservador do joanete é eficaz na maioria dos pacientes para o controle dos sintomas relacionados. Afastadores, protetores, órtese de contenção noturna, mudança do tipo de calçado, tratamento fisioterapêutico e medicação anti-inflamatória são algumas das condutas que podem ser empregadas como alternativa ou para postergar o procedimento cirúrgico. 

A correção cirúrgica do joanete está indicada na falha do tratamento conservador, quando ocorre progressão da deformidade, avaliada através de exames radiológicos seriados, e desconforto ou incapacidade no uso de calçados adequados para a prática esportiva ou laboral. Existem diversas técnicas que podem ser utilizadas para compor o tratamento cirúrgico, de acordo com o grau, a congruência ou degeneração da articulação do hálux.

Os três tipos de deformidades mais comuns que acometem os quatro dedos menores do pé são: dedo em malho, dedo em martelo e dedo em garra.

O dedo em malho é a deformidade em flexão plantar da articulação interfalângica distal. Esta alteração propicia a formação de um calo dorsal, muitas vezes doloroso, pelo atrito com a caixa do calçado e/ou um calo na ponta do dedo que deforma a unha, pelo contato e impacto direto com o solo. É mais frequente em pés tipo Index Minus e acomete principalmente o 2º e/ou o 3º dedo.

 

 

O dedo em martelo é deformidade em flexão plantar da articulação interfalângica proximal. Pode ocasionar um calo doloroso dorsal pelo contato com a caixa do calçado, podendo também formar calo na ponta do dedo e deformação da unha. Pode apresentar-se como deformidade única ou em múltiplos dedos.

 

 

O calo lateral do 5º dedo é causado pelo atrito e pressão contra a borda lateral do calçado e pode estar relacionado com a deformidade em martelo desse dedo. A dor pode ser bastante desconfortável, principalmente com o uso de calçados de bico fino.

 

 

O dedo em garra é uma deformidade mais complexa e se apresenta com a hiperextensão da articulação metatarsofalângica e flexão plantar da articulação interfalângica proximal e distal. Essa alteração ocasiona calos dolorosos dorsais e dor metatarsal pelo deslocamento anterior do coxim plantar. Normalmente acomete múltiplos dedos e está associada à alguma disfunção neuromuscular.

 

 

Todas essas deformidades se apresentam de forma rígida ou flexível, e isto deve ser avaliado por um ortopedista para melhor orientar o método de tratamento a ser utilizado. Mudança do tipo de calçado, aparelhos de contenção, afastadores interdigitais e dedeiras de silicone são métodos conservadores que podem aliviar os sintomas, mas não corrigem as deformidades.

 

 

O tratamento cirúrgico tem por objetivo alinhar e corrigir as deformidades dos dedos, estabelecer uma posição mais anatômica e afastar assim os pontos de atrito e pressão com os calçados. Existem diversas técnicas cirúrgicas que podem ser empregadas isoladamente ou em conjunto, dependendo do grau da deformidade, rigidez e/ou desvios articulares associados. Osteotomias, condilectomias, artrodeses, transferências e alongamentos tendíneos são os procedimentos utilizados pelo cirurgião ortopédico para corrigir as deformidades dos dedos menores.       

 

Calos Interdigitais:


Os calos interdigitais são hiperqueratoses que ocorrem pelo contato e compressão da pele entre dois dedos do pé, mais precisamente entre dois côndilos, ou entre o canto ungueal e o côndilo, ou, até mesmo, entre osteófitos articulares quando existe artrose nas articulações interfalângicas. Não estão relacionados ao atrito direto com o calçado, mas os calçados que comprimem lateralmente o pé, principalmente os de bicos finos, contribuem para o agravamento da lesão e o aumento da dor. Muitas vezes podem ser confundidos com infecções micóticas, principalmente quando formam lesões profundas e ulceradas.

Esses calos podem ser chamados de calos em espelho, pois as duas faces de contato do espaço interdigital apresentam a hiperqueratose e ambas são dolorosas.


            

 

O tratamento conservador dos calos interdigitais destina-se a dar alivio sintomático e evitar ulcerações da pele. Uso de calçados arredondados, mais largos e com boa acomodação para os dedos, uso de protetores ou afastadores interdigitais e retirada do acúmulo da hiperqueratose local propicia melhor conforto e previne o agravamento das lesões.

 

O tratamento cirúrgico está indicado na falha ou na não adaptação ao tratamento conservador, assim como lesões ulceradas de difícil resolução ou deformidades angulares dos dedos. O realinhamento articular através de osteotomias de ressecção ou condilectomias é o objetivo principal das técnicas cirúrgicas utilizadas para a correção do calo interdigital.

 

Calo Intertriginoso:


O calo intertriginoso ocorre na porção mais proximal do espaço interdigital, principalmente entre o 4º e 5º dedos e menos frequentemente entre o 3º e 4º dedos.

Diferente do calo interdigital, a hiperqueratose da porção mais profunda do 3º ou 4º espaço é causada pelo atrito entre as faces e dobras da própria pele, o que promove a maceração e a abertura do tecido. Frequentemente a contaminação fúngica está presente, favorecida pela manutenção constante de um espaço úmido e tecido descamativo abundante.


 

 

A associação da hiperqueratose mecânica e infecção por fungos promove o aprofundamento da lesão, formando uma fístula, o que mantém a lesão aberta e propicia a infecção bacteriana secundária.

 

 

O tratamento conservador baseia-se no uso de protetores interdigitais como coxins de espuma, gaze ou algodão. Agentes secantes, antibacterianos e antifúngicos podem ser usados.

O tratamento cirúrgico do calo intertriginoso deve ser focado no desbridamento e correção do espaço entre os dedos. A sindactilização é o procedimento cirúrgico que corrige e fecha o espaço interdigital através de uma plastia da pele, em alguns casos, pode ser necessário a correção da parte óssea dos dedos.

 

Ressecção do calo intertriginoso

 

Sutura da sindactilização do 4º espaço

 

Resultado após cicatrização


 

Calosidades (Tilomas):

Calosidades ou tilomas são lesões reacionais hiperqueratóticas mais amplas que os calos. Localizadas em áreas de maior fricção e pressão, abrangendo uma área mais extensa, com bordas mais tênues e apresentando sintomas dolorosos mais difusos.

 

 

Normalmente estão relacionadas com alterações posturais da marcha ou alterações anatômicas mais complexas do pé. 

Deformidades que envolvem mais de um metatarso, sem proeminências ou pontos específicos de contato ou atrito, podem desenvolver áreas maiores de hiperqueratose plantar.

A insuficiência mecânica ou anatômica do 1º raio é uma das alterações que levam a formação de calosidades plantares difusas. A progressão da deformidade em hálux valgo (joanete) pode levar a uma insuficiência de apoio na cabeça do primeiro raio, transferindo assim grande parte do apoio frontal do pé para as cabeças metatarsais laterais (2º, 3º e 4º metatarsos). Da mesma forma, procedimentos cirúrgicos que encurtam ou causam instabilidade articular do hálux desequilibram a distribuição da carga de apoio plantar e a transferem para os demais raios.

As alterações posturais que afetam o pé e a marcha podem ser causadas por inúmeras condições. As mais comumente associadas são: as deformidades genéticas, como o pé cavo idiopático, o pé torto congênito e o encurtamento tendíneo; as desordens neurológicas, como a paralisia cerebral, a espinha bífida, a mielomeningocele, a poliomielite e a síndrome de Charcot-Marie-Tooth; e as sequelas de trauma, como o trauma raquimedular, a lesão de nervos periféricos e as fraturas ou queimaduras graves do pé.

 

 

Nas alterações posturais da marcha, geralmente, as calosidades formam-se por um mecanismo de sobrecarga plantar na porção anterior do pé.  O encurtamento da musculatura posterior da perna (gastrocnêmio) ou do tendão calcâneo (Aquiles) forçam continuamente a porção frontal do pé contra o solo a cada passo, acentuando as pressões sob as cabeças metatarsais.

As deformidades em pé cavo e pé equino limitam as áreas de descarga e concentram o peso do corpo em superfícies menores de apoio, aumentando de forma significativa as pressões nas regiões plantares que entram em contato com o solo.


                                


O tratamento conservador das calosidades plantares tem por objetivo propiciar a melhora sintomática e oferecer conforto ao ficar em pé e para a deambulação, com alívio dos pontos críticos de apoio e pressão.

Para deformidades leves e calosidades brandas ou pouco sintomáticas, encorajar o paciente a mudar o tipo de calçado para modelos mais anatômicos e confortáveis, adequando uma palmilha para conforto pode ser suficiente para a melhora da sintomatologia. A fisioterapia motora, visando alongamento, reforço e ganho de propriocepção, tem um papel importante para pacientes com desequilíbrios musculares e/ou encurtamentos tendíneos.

O desbridamento superficial da calosidade com lâmina de bisturi deve ser realizado por profissionais capacitados e ser feito de forma cuidadosa sem invadir as camadas mais profundas da pele.

Palmilhas para descarga e acomodação podem ser prescritas para aliviar os pontos de pressão e evitar a formação precoce de nova calosidade. Cremes e loções queratolíticas, a base de ácido salicílico, podem ser utilizados como coadjuvante no tratamento das calosidades plantares.

O uso de órteses e calçados especiais serve para acomodar deformidades mais significativas, proteger os pontos de contato e atrito e equilibrar possíveis discrepâncias de comprimento entre os membros inferiores.

O  tratamento cirúrgico destina-se a corrigir as deformidades presentes, restabelecendo uma postura plantígrada mais anatômica e fisiológica possível. Reconstruir o equilíbrio e a distribuição das pressões plantares, proporcionar o uso de calçados adequados e, até mesmo, modificar a capacidade para as atividades físicas e laborais são objetivos possíveis de serem conseguidos.

O fator mais importante do tratamento cirúrgico é a correta indicação das inúmeras técnicas que podem ser empregadas para os mais diversos tipos e graus de deformidades. A identificação e o entendimento da patologia primária, assim como os aspectos específicos de cada deformidade, são essenciais para prever a resposta e o resultado do procedimento cirúrgico indicado.

 


Verruga Plantar:

Verrugas são algumas das lesões mais comuns da pele, principalmente em crianças, acometendo cerca de 7 a 10 % da população.

É uma lesão epitelial proliferativa benigna ocasionada pela infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Existem vários subtipos de HPV, que são responsáveis por causar diferentes apresentação clínicas de verrugas, como também acometem diferentes regiões do corpo.

 

 

A verruga plantar, assim como a palmar, é ocasionada pela infecção pelo HPV tipo 1 e 2.

 Verrugas plantares podem se manifestar com diversos padrões de acometimento, desde lesões únicas e pequenas (1 - 2 mm) até lesões múltiplas e de grandes dimensões, formando um mosaico de pequenas pápulas hiperqueratóticas.

 

 

O fato desse tipo de verruga acometer a planta do pé, em áreas de pressão ou de contato constante, impede que o tecido protrua espontaneamente, o que ocasiona um aumento tecidual na porção interna da pele com efeito compressivo local, resultando em uma lesão extremamente dolorosa.

 

           

 

O método mais utilizado para o diagnóstico de verruga plantar é a identificação das cristas ou papilas capilares, pequenos pontos de coloração vermelha, marrom ou preta. Às vezes é necessário desbastar com um bisturi a camada superficial da verruga para melhor visualização desses pontos de sangramento.

 

Papilas capilares de verruga plantar

(pontos vermelhos internos) 

 

Antes de iniciar o tratamento das verrugas plantares é importante lembrar que muitas verrugas desaparecem espontaneamente, principalmente em crianças. Aproximadamente 50% de todas as verrugas em crianças desaparecem dentro de 2 anos sem qualquer terapia.

Diversos métodos de tratamentos estão descritos e a ressecção cirúrgica é o método mais eficaz para eliminar o vírus. A cauterização pelo frio (crioterapia), pelo calor (eletrocauterização) e por substâncias químicas (ablação química) sçao os métodos mais comumente empregados. Para lesões numerosas ou recidivantes, tratamentos com sustâncias químicas que destroem o tecido contaminado têm sido relatadas como eficazes.

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