“The Human Foot is a Masterpiece of Engineering and a Work of Art.”
Leonardo Da Vinci
TEUS PÉS
Francisco Pimentel
Anatomicamente interpretados,
Consideram-se os pés sob o conceito
De cinquenta e dois ossos conjugados
Num equilíbrio sólido e perfeito.
Mas sobre eles, existe o preconceito
De que somente quando bem calçados
Conseguem revelar-se sem defeito,
Mas calculadamente modelados.
De que vale o artifício da beleza,
Quando traduz o exótico desejo
De deturpar a própria Natureza?
Mas desta forma muitos vão julgando
Porque não vêem teus pés tal como eu vejo,
Libertos da prisão de quando em quando…
TUS PIES
Pablo Neruda
Cuando no puedo mirar tu cara,
miro tus pies.
Tus pies de hueso arqueado,
tus pequeños pies duros.
Yo sé que te sostienen
y que tu dulce peso sobre ellos se levanta.
Tu cintura y tus pechos,
la duplicada púrpura de tus pezones,
la caja de tus ojos que recién han volado,
Tu ancha boca de fruta,
tu cabellera roja, pequeña torre mía.
Pero no amo tus pies
sino porque anduvieron sobre la tierra
y sobre el viento,
y sobre el agua,
hasta que me econtraron.
TEUS PÉS (Tradução)
Pablo Neruda
Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
a duplicada púrpura dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos que há pouco levantaram voo,
tua larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira, pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
é só porque andaram sobre a terra,
e sobre o vento,
e sobre a água,
até me encontrarem.
POEMA PARA O PÉ
Lavínia Saad (Palavrogramas)
Declamo o pé,
meu nobre pé,
conhecido apenas
por seu chulé,
mas que tem
muitas virtudes:
sobre tudo me carrega
pra lá e pra cá
sem nem muito
se queixar
Quem é o pé?
Ora bolas, o pé
é nada menos que
a mão da perna.
Ou será que a mão
é que é o pé do braço?
Enfim, é o pé
que me acode
na hora de andar,
de pedalar,
de correr,
de pular,
de dançar.
E é em homenagem ao
humilde pé
que temos:
o arrasta-pé,
o pé-de-moleque,
o “ao pé da letra.”
Proponho o
Dia Nacional do Pé.
E a mão?
Só se for pra
plantar bananeira.
E plantar bananeira com os pés?
Isso é chamado: “Ficar de pé.”
POESIA DO PÉ
Alexandre Pelegi
Quem dá no pé quer fugir.
Ao pé da letra é resposta pronta, sem vacilação.
Quem aperta o pé só quer andar mais rápido.
Meter os pés é pagar favor com ingratidão…
Quem fala ao pé do ouvido quer conversa “em segredo”.
Quem bate o pé é teimoso.
Quem bota o pé no mundo quer degredo.
Quem cai de pé é tinhoso…
Quem fica com o pé atrás é desconfiado.
Em pé de igualdade, de igual pra igual.
Se entra com o pé direito, quer ter sorte.
Se entra com o pé esquerdo, é azarado…
Quem lambe os pés, adula e bajula.
Se trata na sola dos pés, é grosseiro.
Quem não chega aos meus pés não tem importância,
É pé-de-chinelo, zé-ninguém sem dinheiro.
Se o negócio está de pé, é porque o acerto é mantido.
Se procuras um pé, buscas pretexto ou motivo.
Quem é pé-de-chumbo não progride na vida;
Mas se é pé-de-bode é trabalhador e prestativo.
Quem chega pé ante pé, vem devagar, de mansinho;
Mas se é pé-de-guerra, cuidado que de lá vem chumbo!
Se vem pé-d’água, espere toró e aguaceiro.
Se é pé-de-vento é redemoinho…
Pé-de-gancho ou pé cascudo é o diabo!
Quem mete o pé no estribo encaminha a viagem;
Já pé-quente é o motorista ligeiro
Que mete o pé na tábua quando some na paisagem.
Se digo pé-de-página falo de rodapé de livro.
Já pé-de-moleque é doce de rapadura.
Para o pedreiro coluna de casa é pé-direito.
E pé-duro é caipira da roça, sem cultura…
Pé na cova é o doente nas últimas.
Azarado e sem sorte chamam de pé-frio.
Quem se arruína mete o pé no atoleiro.
Acaba pé-rapado, sem dinheiro nem brio.
Quem pisa no pé quer provocação;
Mas quem tem tirocínio tem sempre os pés-no-chão…
PÉS DESCALÇOS QUE FALAM POR SI
Pinhal Dias
Sejam pés brancos, amarelos ou negros
São sempre pés dignos de sua caminhada!
Dos pés bem calçados aos descalços
Deviam ser pés bem tratados,
Muito bem conservados.
Pés descalços que falam por si!
Fazem realçar em plástico moldado,
Por atilhos, tiras entre dedos
Bem se livram de enredos
Caminhando o dia inteiro
Por serem pés iluminados!
Livres! Pés de mensageiro!
Com sua imagem de pobreza
Vingam outros em riqueza!
Fortes e fracos mas, são afirmados!
Ainda hoje co-habitam entre nós
Pés descalços que falam por si!
ODE AOS PÉS
Maria Carpi (Pequena Antologia)
Benditas sejam as mãos
que jogam o grão
nos sulcos dos ventos e da criação.
Mais benditos sejam os pés
que avançam o corpo
ao limiar dos sonhos.
Benditas sejam as mãos
que sustentam a roldana
do poço das águas vivas.
Mais benditos sejam os pés
que seguram o corpo
à beira das profundezas.
Benditas sejam as mãos
que ascendem o rosto
amante ao gosto amado.
Mais benditos sejam os pés
que partem sem regresso
com o amor retirante.
Benditas sejam as mãos
quando cozem,costuram e aleitam
o levante do sol operário.
Mais benditos sejam os pés
pisando as incertezas
do entrante, sem itinerário.
Benditas sejam as mãos
que das cordas do sensível
concertam harmonias.
Mais benditos sejam os pés
a estalar o inaudível
das folhas secas dos ermos.
Benditas sejam as mãos
com suas asas atadas
à improvável hora.
Mais benditos sejam os pés
de raízes voantes
na árvore barco do agora.
As mãos seguram o movimento
às rédeas, mas os pés
pressionam o ventre do galope.
As mãos abrem a porta
da claridade, mas os pés
nos introduzem no interior da luz.
JOANA E A INTERNA CHAMA
Maria Carpi – A Chama Azul (Canto II – Poema 6)
O melhor de Joana
não são os ouvidos
em sintonia com o mar.
O melhor de Joana
são os pés. As estrelas
não caem longe da árvore,
varrendo-lhe as folhas.
Suas antenas são os pés
que lêem as brasas.
Captam do chão a fundura
do paraíso. Quando
interrompem o caminho,
sem anuência do peregrino,
afloram da rocha, um faisão
e sua fonte. Ao contrário
da levitação dos santos, Joana
é um surto desde as plantas.
Os seus pés incendeiam frutos.
DIVINOS PÉS
Antônio Antunes Almeida
Embora o mundo nos pareça difícil,
Mesmo assim chega ser muito legal.
Pense todos nós gostando das magrinhas,
Que seriam então das gordinhas afinal.
Eu tenho uma predileção por gordinhas,
Quando o assunto tratado é a mulher.
Gosto de apreciar também as magrinhas,
Mas aprecio uma gordinha de bonitos pés.
Por gostar e deles haver me lembrado,
Entre os homens faço parte da exceção.
Tive um dia o maior orgasmo do mundo,
Acariciando e beijando dois pés com emoção.
Eram pequenos sedosos e lindos,
Perfumados, macios e encantadores.
Pareciam duas plumas ao tocar meus lábios,
Jamais pude esquecê-los entre todos os meus amores.
Suas unhas pareciam pérolas brilhantes,
Pela fina base que faziam-nas realçar.
Tratadas com o maior carinho do mundo,
Para assim poderem me conquistar.
Gostaria que Deus um dia me permitisse,
Aqueles pés novamente encontrar.
Foi a noite de amor mais linda que tive,
Consegui por dois pés me apaixonar.
POEMA DOS PÉS DE CRISTO
Gioia Junior
Eram uns pés pequeninos,
róseos, alegres, divinos
a saltitar de alegria,
aqueles pés de criança
que, no dia da esperança
brincavam na estrebaria.
Eram pés alvos e graves,
plúmeos, leves como as aves
que andam perdidas pelo ar;
aqueles pés delicados
lisos, brilhantes, molhados
pisando as ondas do mar.
Pés, cuja pele morena
o pranto de Madalena
aromou em mil desvelos,
e que depois de minutos
foram beijados e enxutos
pelos seus longos cabelos…
Eram pés lentos, cansados,
feridos e machucados
e lacerados de espinhos
aqueles pés expressivos,
sempre em marcha, sempre vivos
a conquistar os caminhos.
Eram pés magros e frios,
lilazes, mortos, sombrios,
“com a mensagem que o sangue traduz”
aqueles pés gotejantes
que, nos últimos instantes,
foram pregados na cruz.
Eram pés claros, gloriosos,
aqueles pés poderosos
rompendo da morte o véu,
por nuvens acariciados
e por estrelas beijados
quando Ele subiu ao céu!
TEU PÉ …
João Galante
Estou revendo teu pé
De olhos semicerrados
Saboreando os caminhos
As veredas e os declives
Lambendo as marcas
Gostosas dos trilhos
Geografados em ti …
Estou revendo teu pé
Mordiscando teus dedos
Reinventando meus beijos
Vou chupando teu sangue
Lúbrico quadro em delírio
Minha língua cuspindo fogo
Numa flagelação consentida
Estou revendo teu pé
E vou te pedindo perdão
Por não ter tido mão no tempo
Pela não perpetuação do sonho
Pelo súbito despertar na vulgaridade
Sem pés, sem mãos, sem nada mais além
Da minha cuncupiscência
Inconsequente
E morta…
Estou revendo teu pé
Sobre um vulcão diáfano
Pairando em meu tapete pétala
Que eu teci te esperando em sonhos
Fantasiando no conforto desse espelho virtual
Necrotério final desta passagem etérea e fugaz
Confissão desprendida de uma extemporânea
Paixão
PÉ COM PÉ
Letra da Música
Grupo Musical Infantil Palavra Cantada
Um pé pra lá
Outro pra cá
Um pé pra lá
Outro pra cá
Pé com pé, pé com pé
Pé com pé, pé contra pé
Acordei com o pé esquerdo
Calcei meu pé de pato
Chutei o pé da cama
Botei o pé na estrada
Deu um pé de vento
Caiu um pé d’água
Enfiei o pé na lama
Perdi o pé de apoio
Agarrei num pé de planta
Despenquei com pé descaço
Tomei pé da situação
Tava tudo em pé de guerra
Tudo em pé de guerra
Pé com pé, pé com pé,
Pé com pé, pé contra pé
Não me leve ao pé da letra
Essa história não tem pé nem cabeça
Vou dar no pé / Pé quente
Pé ante pé / Pé rapado
Samba no pé / Pé na roda
Não dá mais pé / Pé chato
Pegar no pé / Pé de anjo
Beijar o pé / Pé de pato
Manter o pé / Pé de moleque
Passar o pé / Pé de gente
Ponta do pé / pé de guerra
Bicho de pé / Pé atrás
De orelha em pé / Pé fora
Pé contra pé / Pé frio
A pé
Rodapé / Pé