Elas foram obtidas de diversas fontes; algumas fotografadas por mim, outras em colaboração, principalmente da apresentação que me inspirou para construir esta página, de autoria do Dr. Pier Carlo Pisani intitulada ” Il Piede Profilo Culturale” proferida em maio de 2008 no 57º curso teorico-prático de atualização em cirurgia do pé em Santa Vittoria D’Alba na Itália.
Agradeço a todos.
Hieroglifo: Estrelas para deusa Ishtar (+/- 1530 AC)
Ny Carlsberg Glyptotek – Copenhagem – Dinamarca
Desenho negro em ânfora (+/- 580 AC)
Museu Arqueológico Nacional de Corinto – Grécia
Taça decorada no estilo do pintor Boreas (+/- 560 AC)
Museu Arqueológico de Rhodes – Grécia
Jarra Etrusca (+/- 520 AC)
Local: Museu da História da Arte – Viena – Áustria (Kunsthistorisches Museum)
Mosaico anônimo ( século XII)
Local: Catedral de Lescar – França
Local: Museu Nacional de Addis Abeba – Etiópia
Mármore. Origem Desconhecida.
Período Romano (30 AC – 395 DC)
Local: Museu Egípcio de Turim (Torino) – Itália
Local: Museu Capitolino – Roma – Itália
Flavius Valerius Aurelius Constantinus (Constantino, O Grande) foi aclamado como Augusto (306 DC) e nomeado posteriormente como César em 312 DC, foi imperador do Império Romano Unificado até 337 DC.
Local: Museu Capitolino – Roma – Itália
Encontradas na tumba de Nefertari. Novo Reinado. Dinastia XIX – Ramsés II (1279 – 1213 AC)
Local : Museu Egípcio de Turim (Torino) – Itália
Encontrada no Vale dos Reis – Novo Reinado (1550 – 332 AC)
Local : Museu Egípcio de Turim (Torino) – Itália
Existem evidências que a história do sapato começa a partir de 10.000 anos A.C., ou seja, no final do período Paleolítico, pois pinturas rupestres e achados arqueológicos desta época foram encontrados em cavernas da Europa e América do Norte.
O uso de fibras vegetais para amarrar e trançar é uma das habilidades mais antigas usadas pelos hominídeos na fabricação de utensílios e era usada inicialmente para unir galhos de madeira, construir abrigos, amarrar animais, fabricar cordas, redes e roupas primitivas. Por esta razão, os primeiros calçados foram provavelmente feitos de fibras vegetais trançadas.
O calçado mais antigo conhecido até hoje é uma sandália de fibra vegetal achada na caverna “Catlow Cave”, no limite sul de Catlow Valley, e na caverna “Fort Rock Cave”, perto de Fort Rock State Natural Area, ambas no estado de Oregon (EUA).
As sandálias datam de 9.300 a 10.500 anos e são feitas de fibras trançadas de Artemísia Tridentada(Sagebrush (EUA) ou Flor de São João (BR)) e estão expostas no Museu de História Natural da Universidade de Oregon.
Sandálias trançadas de Artemísia Tridentada de 9.300 a 10.000 anos
Na gruta “Arnold Research Cave” no Missouri (EUA), foram descobertos vários tipos de calçados, basicamente do tipo mocassim e sandália, datados com cerca de 7500 a 9000 anos, fabricados com pele de veado e fibras vegetais.
Mocassim de pele de veado e palha (esquerda) e sandálias de fibra vegetal trançadas (centro e direita)
(7500 – 9000 anos)
Nas cavernas de “Hinds Cave”, localizadas em Pecos, no estado do Texas (EUA), foram descobertos vários tipos de sandálias, fabricadas com fibras de Yucca e com Lechuguilla. Esses calçados foram também datados com cerca de 9000 anos.
Sandálias feitas com fibras trançadas de Yucca e Lechuguilla – 9000 anos (Universidade do Texas (EUA))
Ainda no período Paleolítico, concomitantemente com a utilização das fibras vegetais para trançar e amarrar, o homem aprimorou o uso da pedra lascada e de artefatos feitos de osso e madeira. Entre os utensílios de pedra encontrados, existem vários que serviam para retirar e raspar as peles dos animais, o que indica que a arte de preparar o couro advém da caça e da necessidade de proteger o corpo da chuva e do frio.
O curtimento primitivo do couro exigia certa técnica, pois o couro rígido era difícil de moldar e limitava os movimentos do corpo. Molhar, amassar repetidas vezes e passar gordura animal deixava o couro mais maleável e possibilitava a fabricação de vestimentas. Por isso, de certa forma, os calçados de couro foram uma evolução técnica importante para o conforto e proteção dos pés do homem pré-histórico.
Um grupo de cientistas internacionais, liderados pela Universidade de Cork na Irlanda, encontraram em uma enorme caverna na Armênia o sapato de couro mais antigo do mundo, juntamente com vários outros utensílios.
O objeto tem a idade estimada em 5500 anos, isto é, 1000 anos antes da construção da grande pirâmide. Segundo as análises realizadas sobre várias amostras por três laboratórios no Reino Unido e EUA, a peça é do ano 3500 A.C, do período Calcolítico ou Idade do Cobre. Isto o converte no sapato de couro mais antigo achado no Velho Mundo, já que supera em 200 anos os sapatos utilizados pela múmia mais antiga já estudada, o famoso “Homem do Gelo” Otzi, que viveu há cerca de 5.300 anos atrás e seus restos mumificados foram encontrados em 1991 nos Alpes Otztal, na fronteira entre a Áustria e a Itália.
OTZI – Múmia de 5300 anos e Representações do ” Homem do Gelo “
Sapato do OTZI (3300 A.C.) – Couro com amarras em fibra trançada e proteção de palha
Duas reconstruções do sapato do OTZI
Encontrado sob uma camada de esterco de ovelha, o sapato estava perfeitamente conservado devido aos sedimentos e às condições ambientais secas e estáveis do local. A caverna está a 4.500 metros acima do nível do mar, em terreno rochoso e as temperaturas variam de -10 °C no inverno a 40 °C no verão.
Sapato de 5500 anos e a caverna onde foi encontrado na Armênia
Baseado em um único pedaço de couro de boi, o sapato está em perfeito estado de conservação e tem o formato de um mocassim ainda com os tirantes de couro transpassando seus furos. O calçado estava recheado de palha seca e os pesquisadores ainda não sabem dizer se o vegetal servia para manter os pés aquecidos ou para conservar o formato do calçado enquanto ele estava guardado.
Sapato de 3500 A.C – 200 anos mais antigo que o sapato do OTZI
De número equivalente ao 35 e lado direito, o sapato poderia ter pertencido a um homem ou a uma mulher daquela época. Não se sabe muito sobre as pessoas que usavam o sapato, mas pensa-se que teriam sido alguns dos primeiros agricultores e tribos nômades que usavam a caverna como base.
De acordo com os arqueólogos, existem semelhanças enormes entre a técnica de manufatura e o estilo desse sapato com as encontradas em toda a Europa em períodos posteriores, sugerindo que esse tipo de sapato foi usado por milênios através de uma grande região geográfica.
Dois hallux (“dedão” do pé) artificiais com mais de 2.600 anos de idade são confirmados como as próteses mais antigas já encontradas. A descoberta desbanca a Perna de Cápua, uma perna artificial romana feita de bronze datada de 300 A.C., encontrada em um cemitério perto da cidade de Cápua e considerada a prótese mais antiga até então. A Perna de Cápua foi destruída na II Guerra Mundial após um bombardeio aéreo do Royal College of Surgeons de Londres, sua réplica está atualmente exposta no Museu da Ciência londrino.
Perna de Cápua e reprodução em gesso do Museu de Ciência de Londres
Em 2007, enquanto estudava partes falsas em corpos de múmias, a egiptóloga Jacky Finch, da Universidade de Manchester (Inglaterra), percebeu que dois dedos falsos foram elaborados com detalhes diferenciados em vez dos materiais comuns às práticas egípcias.
O primeiro dedo, chamado de Greville Chester, é datado em 600 A.C. e foi encontrado há 130 anos perto da cidade de Luxor (Egito), necrópole de Tebas. Feito com fibras de linho, cola animal e revestido de gesso colorido, a prótese inclui até mesmo um recuo para colocação de uma provável unha ornamental. Exposto atualmente no Museu Britânico de Londres.
O segundo, chamado Dedo do Cairo, é datado entre 950 e 710 A.C. e foi encontrado em 2000. Ele foi elaborado com três peças de madeira moldadas e perfuradas com pequenos buracos para a passagem de cordões de couro, como uma dobradiça que possibilita a flexibilidade e imita as articulações dos pés, demonstrando uma preocupação aguda com a anatomia. A prótese pertenceu a Tabaketenmut, a filha de um alto sacerdote egípcio e está exposto no Museu Egípcio do Cairo.
Os egípcios tentavam garantir com que os corpos dos falecidos chegassem à vida após a morte da forma mais completa possível. Se algum membro do corpo estivesse faltando ou muito machucado, ele era substituído por partes simples feitas de palha, fibra, lama e manteiga.
Os dedos encontrados pela egiptóloga, contudo, não aparentavam serem apenas adornos para o além-morte. Feitos com materiais diferenciados, eles mostravam sinais de desgaste, como se os donos os tivessem usado enquanto vivos.
Dra. Jacky Finch e suas próteses de teste
Para determinar corretamente qualquer nível de funcionalidade exige-se a aplicação de técnicas de análise de locomoção. Por isso, ela construiu réplicas dos dedos falsos e as testou em dois voluntários que não tinham o dedão do pé direito. No laboratório de marcha da Universidade de Salford foram medidas as pressões geradas pelo caminhar e câmeras analisaram os passos e o movimento dos pés. Foi concluído que os voluntários conseguiam movimentar os pés de modo altamente eficiente e ambos disseram que a prótese de madeira era especialmente confortável para a deambulação, confirmando a hipótese da pesquisadora de que os dedos falsos teriam sido próteses utilizadas em vida.
Para serem consideradas próteses, os dedos falsos não poderiam se quebrar enquanto eram utilizados e deveriam se adaptar ao formato do corpo sem deformá-lo. De acordo com a pesquisadora, as duas próteses preencheram ambos os critérios.
“Quem quer que tenha feito estes dispositivos nos tempos antigos também teria discutido a adaptação e a sensibilidade em consultas com seus “pacientes””, concluiu Finch. A pesquisa foi publicada no periódico médico britânico The Lancet (Vol. 377 p 548).
Em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, Jacky disse: “O estudo sugere que os dois dispositivos podem ser considerados como próteses e, sendo assim, os primórdios deste ramo da medicina devem ser atribuídos aos pés dos antigos egípcios”.
“The Human Foot is a Masterpiece of Engineering and a Work of Art.”
Leonardo Da Vinci
TEUS PÉS
Francisco Pimentel
Anatomicamente interpretados,
Consideram-se os pés sob o conceito
De cinquenta e dois ossos conjugados
Num equilíbrio sólido e perfeito.
Mas sobre eles, existe o preconceito
De que somente quando bem calçados
Conseguem revelar-se sem defeito,
Mas calculadamente modelados.
De que vale o artifício da beleza,
Quando traduz o exótico desejo
De deturpar a própria Natureza?
Mas desta forma muitos vão julgando
Porque não vêem teus pés tal como eu vejo,
Libertos da prisão de quando em quando…
TUS PIES
Pablo Neruda
Cuando no puedo mirar tu cara,
miro tus pies.
Tus pies de hueso arqueado,
tus pequeños pies duros.
Yo sé que te sostienen
y que tu dulce peso sobre ellos se levanta.
Tu cintura y tus pechos,
la duplicada púrpura de tus pezones,
la caja de tus ojos que recién han volado,
Tu ancha boca de fruta,
tu cabellera roja, pequeña torre mía.
Pero no amo tus pies
sino porque anduvieron sobre la tierra
y sobre el viento,
y sobre el agua,
hasta que me econtraron.
TEUS PÉS (Tradução)
Pablo Neruda
Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
a duplicada púrpura dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos que há pouco levantaram voo,
tua larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira, pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
é só porque andaram sobre a terra,
e sobre o vento,
e sobre a água,
até me encontrarem.
POEMA PARA O PÉ
Lavínia Saad (Palavrogramas)
Declamo o pé,
meu nobre pé,
conhecido apenas
por seu chulé,
mas que tem
muitas virtudes:
sobre tudo me carrega
pra lá e pra cá
sem nem muito
se queixar
Quem é o pé?
Ora bolas, o pé
é nada menos que
a mão da perna.
Ou será que a mão
é que é o pé do braço?
Enfim, é o pé
que me acode
na hora de andar,
de pedalar,
de correr,
de pular,
de dançar.
E é em homenagem ao
humilde pé
que temos:
o arrasta-pé,
o pé-de-moleque,
o “ao pé da letra.”
Proponho o
Dia Nacional do Pé.
E a mão?
Só se for pra
plantar bananeira.
E plantar bananeira com os pés?
Isso é chamado: “Ficar de pé.”
POESIA DO PÉ
Alexandre Pelegi
Quem dá no pé quer fugir.
Ao pé da letra é resposta pronta, sem vacilação.
Quem aperta o pé só quer andar mais rápido.
Meter os pés é pagar favor com ingratidão…
Quem fala ao pé do ouvido quer conversa “em segredo”.
Quem bate o pé é teimoso.
Quem bota o pé no mundo quer degredo.
Quem cai de pé é tinhoso…
Quem fica com o pé atrás é desconfiado.
Em pé de igualdade, de igual pra igual.
Se entra com o pé direito, quer ter sorte.
Se entra com o pé esquerdo, é azarado…
Quem lambe os pés, adula e bajula.
Se trata na sola dos pés, é grosseiro.
Quem não chega aos meus pés não tem importância,
É pé-de-chinelo, zé-ninguém sem dinheiro.
Se o negócio está de pé, é porque o acerto é mantido.
Se procuras um pé, buscas pretexto ou motivo.
Quem é pé-de-chumbo não progride na vida;
Mas se é pé-de-bode é trabalhador e prestativo.
Quem chega pé ante pé, vem devagar, de mansinho;
Mas se é pé-de-guerra, cuidado que de lá vem chumbo!
Se vem pé-d’água, espere toró e aguaceiro.
Se é pé-de-vento é redemoinho…
Pé-de-gancho ou pé cascudo é o diabo!
Quem mete o pé no estribo encaminha a viagem;
Já pé-quente é o motorista ligeiro
Que mete o pé na tábua quando some na paisagem.
Se digo pé-de-página falo de rodapé de livro.
Já pé-de-moleque é doce de rapadura.
Para o pedreiro coluna de casa é pé-direito.
E pé-duro é caipira da roça, sem cultura…
Pé na cova é o doente nas últimas.
Azarado e sem sorte chamam de pé-frio.
Quem se arruína mete o pé no atoleiro.
Acaba pé-rapado, sem dinheiro nem brio.
Quem pisa no pé quer provocação;
Mas quem tem tirocínio tem sempre os pés-no-chão…
PÉS DESCALÇOS QUE FALAM POR SI
Pinhal Dias
Sejam pés brancos, amarelos ou negros
São sempre pés dignos de sua caminhada!
Dos pés bem calçados aos descalços
Deviam ser pés bem tratados,
Muito bem conservados.
Pés descalços que falam por si!
Fazem realçar em plástico moldado,
Por atilhos, tiras entre dedos
Bem se livram de enredos
Caminhando o dia inteiro
Por serem pés iluminados!
Livres! Pés de mensageiro!
Com sua imagem de pobreza
Vingam outros em riqueza!
Fortes e fracos mas, são afirmados!
Ainda hoje co-habitam entre nós
Pés descalços que falam por si!
ODE AOS PÉS
Maria Carpi (Pequena Antologia)
Benditas sejam as mãos
que jogam o grão
nos sulcos dos ventos e da criação.
Mais benditos sejam os pés
que avançam o corpo
ao limiar dos sonhos.
Benditas sejam as mãos
que sustentam a roldana
do poço das águas vivas.
Mais benditos sejam os pés
que seguram o corpo
à beira das profundezas.
Benditas sejam as mãos
que ascendem o rosto
amante ao gosto amado.
Mais benditos sejam os pés
que partem sem regresso
com o amor retirante.
Benditas sejam as mãos
quando cozem,costuram e aleitam
o levante do sol operário.
Mais benditos sejam os pés
pisando as incertezas
do entrante, sem itinerário.
Benditas sejam as mãos
que das cordas do sensível
concertam harmonias.
Mais benditos sejam os pés
a estalar o inaudível
das folhas secas dos ermos.
Benditas sejam as mãos
com suas asas atadas
à improvável hora.
Mais benditos sejam os pés
de raízes voantes
na árvore barco do agora.
As mãos seguram o movimento
às rédeas, mas os pés
pressionam o ventre do galope.
As mãos abrem a porta
da claridade, mas os pés
nos introduzem no interior da luz.
JOANA E A INTERNA CHAMA
Maria Carpi – A Chama Azul (Canto II – Poema 6)
O melhor de Joana
não são os ouvidos
em sintonia com o mar.
O melhor de Joana
são os pés. As estrelas
não caem longe da árvore,
varrendo-lhe as folhas.
Suas antenas são os pés
que lêem as brasas.
Captam do chão a fundura
do paraíso. Quando
interrompem o caminho,
sem anuência do peregrino,
afloram da rocha, um faisão
e sua fonte. Ao contrário
da levitação dos santos, Joana
é um surto desde as plantas.
Os seus pés incendeiam frutos.
DIVINOS PÉS
Antônio Antunes Almeida
Embora o mundo nos pareça difícil,
Mesmo assim chega ser muito legal.
Pense todos nós gostando das magrinhas,
Que seriam então das gordinhas afinal.
Eu tenho uma predileção por gordinhas,
Quando o assunto tratado é a mulher.
Gosto de apreciar também as magrinhas,
Mas aprecio uma gordinha de bonitos pés.
Por gostar e deles haver me lembrado,
Entre os homens faço parte da exceção.
Tive um dia o maior orgasmo do mundo,
Acariciando e beijando dois pés com emoção.
Eram pequenos sedosos e lindos,
Perfumados, macios e encantadores.
Pareciam duas plumas ao tocar meus lábios,
Jamais pude esquecê-los entre todos os meus amores.
Suas unhas pareciam pérolas brilhantes,
Pela fina base que faziam-nas realçar.
Tratadas com o maior carinho do mundo,
Para assim poderem me conquistar.
Gostaria que Deus um dia me permitisse,
Aqueles pés novamente encontrar.
Foi a noite de amor mais linda que tive,
Consegui por dois pés me apaixonar.
POEMA DOS PÉS DE CRISTO
Gioia Junior
Eram uns pés pequeninos,
róseos, alegres, divinos
a saltitar de alegria,
aqueles pés de criança
que, no dia da esperança
brincavam na estrebaria.
Eram pés alvos e graves,
plúmeos, leves como as aves
que andam perdidas pelo ar;
aqueles pés delicados
lisos, brilhantes, molhados
pisando as ondas do mar.
Pés, cuja pele morena
o pranto de Madalena
aromou em mil desvelos,
e que depois de minutos
foram beijados e enxutos
pelos seus longos cabelos…
Eram pés lentos, cansados,
feridos e machucados
e lacerados de espinhos
aqueles pés expressivos,
sempre em marcha, sempre vivos
a conquistar os caminhos.
Eram pés magros e frios,
lilazes, mortos, sombrios,
“com a mensagem que o sangue traduz”
aqueles pés gotejantes
que, nos últimos instantes,
foram pregados na cruz.
Eram pés claros, gloriosos,
aqueles pés poderosos
rompendo da morte o véu,
por nuvens acariciados
e por estrelas beijados
quando Ele subiu ao céu!
TEU PÉ …
João Galante
Estou revendo teu pé
De olhos semicerrados
Saboreando os caminhos
As veredas e os declives
Lambendo as marcas
Gostosas dos trilhos
Geografados em ti …
Estou revendo teu pé
Mordiscando teus dedos
Reinventando meus beijos
Vou chupando teu sangue
Lúbrico quadro em delírio
Minha língua cuspindo fogo
Numa flagelação consentida
Estou revendo teu pé
E vou te pedindo perdão
Por não ter tido mão no tempo
Pela não perpetuação do sonho
Pelo súbito despertar na vulgaridade
Sem pés, sem mãos, sem nada mais além
Da minha cuncupiscência
Inconsequente
E morta…
Estou revendo teu pé
Sobre um vulcão diáfano
Pairando em meu tapete pétala
Que eu teci te esperando em sonhos
Fantasiando no conforto desse espelho virtual
Necrotério final desta passagem etérea e fugaz
Confissão desprendida de uma extemporânea
Paixão
PÉ COM PÉ
Letra da Música
Grupo Musical Infantil Palavra Cantada
Um pé pra lá
Outro pra cá
Um pé pra lá
Outro pra cá
Pé com pé, pé com pé
Pé com pé, pé contra pé
Acordei com o pé esquerdo
Calcei meu pé de pato
Chutei o pé da cama
Botei o pé na estrada
Deu um pé de vento
Caiu um pé d’água
Enfiei o pé na lama
Perdi o pé de apoio
Agarrei num pé de planta
Despenquei com pé descaço
Tomei pé da situação
Tava tudo em pé de guerra
Tudo em pé de guerra
Pé com pé, pé com pé,
Pé com pé, pé contra pé
Não me leve ao pé da letra
Essa história não tem pé nem cabeça
Vou dar no pé / Pé quente
Pé ante pé / Pé rapado
Samba no pé / Pé na roda
Não dá mais pé / Pé chato
Pegar no pé / Pé de anjo
Beijar o pé / Pé de pato
Manter o pé / Pé de moleque
Passar o pé / Pé de gente
Ponta do pé / pé de guerra
Bicho de pé / Pé atrás
De orelha em pé / Pé fora
Pé contra pé / Pé frio
A pé
Rodapé / Pé
Artigo traduzido da publicação científica americana: “The Journal of Bone and Joint Surgery” – JBJS, may, 1897;s1-10:148-161.
Autor: Edward Hickling Bradford, MD
Artigo de maio de 1897 de autoria de Edward Hickling Bradford (1848-1926), uns dos pioneiros da ortopedia moderna. Dr. Bradford formou-se na escola médica de Harvard em 1869, tornando-se o primeiro professor de cirurgia ortopédica após sua especialização na europa e em Nova York. Foi um dos pioneiros no tratamento ortopédico especializado em crianças no hospital Samaritano e Hospital Municipal de Boston. Tornou-se reitor da escola médica de Harvard de 1912 a 1918. Realizou muitas pesquisas e estudos e foi co-autor de livros importantes e de referência na ortopedia moderna. Morreu em 1926, aos 78 anos, de hemorragia cerebral aguda.
Neste artigo de 1897 ele descreve os tipos e as formas dos pés encontrados na arte antiga. Faz referência às várias obras e às mudanças do estilo de escultura dos pés, assim como os calçados usados naquela época e suas diferenças entre os mais variados povos do mundo. Relata a importante influência desses tipos de calçados nas deformidades adquiridas dos pés e dos dedos, como a deformidade rotacional, deformidade em garra e o Halux Valgus (joanete). Por fim, questiona a busca da perfeição anatômica pelos grandes mestres da arte e a representação do pé humano na natureza e para a humanidade.
O PÉ HUMANO NA ARTE
E. H. BRADFORD, M.D.
BOSTON
Quando o escultor americano Hiram Powers apontou com orgulho para a excelência anatômica dos olhos da sua principal obra, a escrava grega, em contraste com as supostas anomalias em obras de arte clássica, ele alegou-se falta de verdadeiro espírito artístico. Corrigir defeitos comuns não é preferível ao que é belo e verdadeiro, mesmo que o último tenha somente defeitos em pequenos detalhes. É certamente uma hipercrítica estabelecer defeitos sobre pequenas trivialidades que todos admiram. Nenhum católico, beijando o dedo de bronze do pé de São Pedro no Vaticano, faz uma pausa para analisar sua modelagem e ninguém olha os defeitos anatômicos da “Coroação da Virgem” de Fra Angelico ou da “Madonna” de Botticelli no museu do Louvre, seria uma completa perda de tempo. E ainda, um grande estudo sobre Homero não precisa desvirtuar a nossa admiração ou reverência perante sua obra.
Qualquer pessoa que se interesse pelo assunto da forma do pé humano vai achar interessante examinar os pés de uma coleção de estátuas.
Embora haja alguma variação nos trabalhos de diferentes escultores, serão encontrados vários tipos de pé que podem ser classificados em três categorias:
1. Tipo Bárbaro e Egípcio.
2. Tipo Clássico.
3. Tipo Neoclássico e Moderno
O primeiro pode ser considerado os pés descalços ou de sandálias, o segundo com coturnos (tipo de sandália alta trançada, sandália romana) e o terceiro os com sapatos, normalmente desgastados.
O pé tipo bárbaro e egípcio normalmente é mal modelado, com exceção de algumas das melhores esculturas egípcias, onde a modelagem foi feita com cuidado. As várias estátuas de Ramsés II de 882 AC e a famosa estátua de madeira da quarta dinastia, 3700 AC, são excelentes exemplos dessa classe (1).
Outros exemplos são os trabalhos dos assírios, indianos, burmeses, siameses, chineses, japoneses, algumas estátuas da África, México e Alasca. Também podemos incluir o arcaico, etrusco, Cipriano e as estátuas gregas (2).
1. Uma múmia pode ser vista no Museu do Louvre, mostrando o cuidado com que o alinhamento dos dedos do pé foi preservado. Cada dedo, incluindo o quinto, foi separadamente enrolado. No Museu Britânico uma múmia exposta de um oficial egípcio da XI Dinastia apresenta o alinhamento do primeiro dedo retificado.
2. As estátuas gregas sobre a via sagrada na Branchidae Caria, Ásia Menor, século VI AC, mostrar o quinto dedo do pé retificado. Todas as estátuas gregas posteriores mostram as peculiaridades mencionadas no tipo clássico.
Essa classe é caracterizada pela falta de divergência dos eixos dos pés na posição ortostática, isto é, pela posição paralela e retificada da borda interna dos pés, além da condição em linha reta e sem pregas de todos os dedos.
Fig.1 – Diagrama representando os pés na escultura.
B. Na escultura egípcia.
C. Na escultura moderna pseudoclássica.
Na arte egípcia e no início da arte grega, onde não há qualquer tentativa de cuidado na modelagem dos dedos do pé, o primeiro dedo está separado do segundo e, na maioria dos casos, o segundo dedo é representado um pouco mais longo que o primeiro (3).
3. No Museu de Antiguidades Nórdicas, em Copenhagen, uma pedra arredondada mostra marcas de duas pegadas com a borda interna reta, os dedos dos pés, incluindo o primeiro e o quinto, retos. Isso é desconhecido da antiguidade.
O segundo tipo ou tipo clássico é representado pelo pé do famoso Hermes, supostamente feito por Praxiteles. As características são bem marcantes. A linha da borda interna do pé é sempre reta, só que existe uma leve curva abaixo da cabeça do primeiro metatarso.
Há uma separação entre o primeiro e o segundo dedo; o segundo, terceiro e o quarto freqüentemente divergem do eixo do pé em um ângulo de pelo menos trinta graus e são paralelos uns aos outros; o quinto dedo é representado como curto e amassado e é colocado atrás da base dos outros dedos. A borda externa curva-se atrás do quinto dedo em direção ao meio do pé e o ângulo de divergência dos pés em posição ortostática é pequeno.
Fig. 2 – Diagrama dos pés de pessoas que usam sapatos, mas com pouca distorção.
A - Adulto, primeiro e quinto dedos do pé ligeiramente deformados pelo sapato.
B - Criança com dedos estendidos por ação muscular.
C - Criança com a musculatura dos dedos relaxada.
D - Sobreposição leve do primeiro e quinto dedos, em criança com sapatos.
Este tipo é observado em todas as estátuas gregas e romanas com pouca variação, a direção retificada do primeiro dedo e a deformidade do quinto dedo. A ondulação do pequeno dedo aparece na arte grega após o século VI AC e pode ser considerada universal, pois toda a arte é influenciada pela tradição grega.
O pé na escultura moderna, bem como no renascimento, é copiada em grande parte do clássico; a distorção peculiar do quinto dedo é universal e, além disso, o pequeno dedo é muitas vezes colocado ainda mais para trás. Sempre que o escultor se esforçou para deixar os modelos clássicos e copiar a natureza ele produziu uma curiosa mistura de distorções. Isso é particularmente visto na escultura recente, onde o desvio do maior dedo do pé é extremamente comum. Escultores modernos, negligenciando as tradições clássicas, copiam modelos imperfeitos. A divergência externa do segundo, terceiro e quarto dedos, a partir da linha mediana (copiado e exagerado do grego), sendo o quarto dedo do pé em linha reta e sem pregas, é impossível nos modelos modernos. O escultor moderno copia também a linha curva do lado externo do pé, que é vista na arte grega e romana, exagerando a curva clássica no desejo de apresentar uma curva de beleza (4). Certos escultores modernos colocam os pés divergindo em um ângulo maior do que o observado no período egípcio e clássico.
4. O número de escultores modernos, que reproduzem o Hallux valgus em suas estátuas é muito grande para serem enumerados. Mesmo um anatomista artístico cuidadoso como Gerome, em sua obra Bellona acrescenta este defeito. Os escultores do início do século (Thorwalsden e Canova) foram mais cuidadosos do que a escola atual francesas, mas freqüentemente modelaram o primeiro dedo com desvio. Isso também é verdadeiro no brilhante painel de Luís XIV e no Renascimento de Donatello e Michelangelo.
O tipo grego mostrou tal maestria na anatomia de superfície, o tipo bárbaro tão bruto e o tipo moderno tão impossível, que o primeiro impulso seria aceitar o pé de Hermes de Praxíteles e mostrá-lo como um modelo para todos os escultores, como é feito nas escolas de arte; mas qualquer investigação sobre qual desses tipos é o mais correto devemos nos basear sobre conceitos mais fidedignos e não tirar nenhuma conclusão precipitada.
Para formar uma opinião sobre este assunto é necessário ter em mente as deformidades dos pés causadas pelo calçado nos diferentes períodos referidos e estudar o pé humano sem qualquer alteração pelo uso dos sapatos.
A mais importante é a deformidade mais comum do primeiro grande dedo do pé, conhecida como Hallux Valgus, que resulta da pressão externa medial na sua extremidade. A deformidade correspondente aos dedos menores do pé é também muitas vezes vista, um amassamento e sobrecarga conhecida como dedo em martelo ou curvatura para baixo da ponta do dedo, resulta de sapatos demasiado curtos ou com o aumento da pressão frontal na extremidade dos dedos menores. Outras deformidades dos dedos são extremamente comuns em pessoas cujos pés foram pressionados por sapatos, ou seja, fraqueza ou impotência muscular por desuso da musculatura nas articulações falangeanas.
Algumas distorções dos dedos do pé são vistas em uma idade relativamente precoce. O exame dos pés de várias crianças indicou que, em comunidades onde os sapatos são usados, os pés, mesmo em crianças pequenas, diferem da forma normal; a separação entre o dedão e o segundo dedo se perde precocemente, o quinto dedo está curvado em direção ao quarto e a força muscular diminui, mesmo com a idade de três anos. Deformidade dos pés nas cidades modernas pode ser considerada universal e escultores, buscando modelos perfeitos, podem não encontrar nenhum pé ileso.
Forma do pé não afetado por sapatos
Se o pé de uma criança pequena for examinado notaríamos força muscular no movimento de todos os dedos do pé. O dedão pode mover-se voluntariamente para o interior, o quinto dedo pode ser levado para o lado externo pelo esforço muscular voluntário e os dedos dos pés podem ser dobrados facilmente. O segundo dedo quando esticado até seu comprimento total é frequentemente mais longo do que o primeiro; o terceiro é do mesmo comprimento do primeiro; o quarto é um pouco menor e o quinto, embora mais curto e fraco, move-se rapidamente, flete, estende e abduz pela ação muscular. Nenhum dos dedos permanece curvo, mas quando relaxados, a falange terminal cai um pouco, e os dedos menores se dobram.
Fig. 3 – Diagrama de sandálias com tiras interdigitais.
A - Egípcios, Japoneses e no uso geral de muitos outros países; tira entre primeiro e segundo dedo do pé.
B - Caldeus, tira ao redor do primeiro dedo.
C - Somália, ao redor do segundo dedo.
D - Toltecas, em torno do segundo e o terceiro dedo.
E - Etruscos, em torno do segundo, terceiro e quarto dedos do pé.
A separação entre o primeiro e o segundo dedo do pé é normal; quando os músculos estão ativos o dedão do pé aproxima-se do segundo. A linha da extremidade dos dedos forma uma curva gradual com a maior convexidade na ponta do segundo. Não há rotação interna do quinto dedo. A linha curva ligando as extremidades proximais dos dedos do pé é semelhante à formada pelas extremidades dos dedos. A linha da borda interna do pé é sempre retificada, exceto quando há contração muscular e o primeiro dedo move-se para dentro.
Pés de adultos que não tenham usado sapatos têm forma semelhante aos das crianças, exceto pelo atrito normal do movimento, desgaste e espessamento da pele, além de deformidades leves, com alguns dedos em martelo, devido à força muscular plantar. Por esta razão, o segundo dedo do pé não é geralmente mais longo que o primeiro, assumindo uma posição mais curva e sendo menos forte. A borda interna do pé é sempre reta, mas nas pessoas que andam ativamente, o primeiro dedo e seu osso metatarsal é mais desenvolvido em força e tamanho do que nos lactentes. O pé é mais longo em relação a sua largura; o quinto dedo, sendo o mais fraco, é muito suscetível a pequenas mudanças de pressão lateral e, quando usamos chinelos ou sapatos soltos, ocorre uma leve torção da falange distal. A parte mais larga do pé é formada pela linha transversal traçada entre os dedos, incluindo o quinto dedo, como no pé egípcio.
O pé lembra um pouco os retratados nas esculturas egípcias, exceto pela retificação paralela dos dedos; o segundo, o terceiro e o quarto não divergem do eixo longo do pé e, em posição de repouso, os dedos menores são mais flexionados do que nas estátuas egípcias.
Uma investigação das deformidades adquiridas dos pés devido ao uso de calçados leva a uma pesquisa sobre os diferentes tipos de cobertura dos pés.
Nenhuma prova é necessária para mostrar que o sapato moderno deforma o pé, uma avaliação de qualquer coleção de sapatos como a excelente coleção do museu de Cluny ou a notável exposição histórica de calçados na feira mundial de Chicago mostra que os sapatos da idade média deformaram os pés quase tanto quanto os modernos (5). Sapatos deformantes não eram tão universalmente usados como atualmente e foram talvez usados principalmente pelas classes mais altas. Sapatos de bico fino foi moda até mesmo entre os egípcios. Na verdade, logo que o homem deixou de utilizar seus pés para caçar, cultivar, marchar ou se locomover por longas distâncias, ele usa o sapato como um meio de ornamentação, de acordo com sua própria fantasia, como prova de distinção e da liberdade do trabalho braçal, como o pé deformado das antigas senhoras chinesas.
5. Isto também é visto nas esculturas históricas dos túmulos da idade média.
Calçados podem ser classificados da seguinte forma: botas ou sapatos, onde todo o pé está coberto; chinelos, onde a frente do pé é coberta, ambos presos na frente e cobrindo o dorso do pé; e sandálias, onde uma alça entre os dedos se une a cintas cruzadas que seguram o solado.
Apesar das botas, sapatos e chinelos variar a forma de acordo com o período e a moda, com exceção das botas de trabalho e montaria, sapatos ornamentais eram quase sempre de bico finos; embora no período da Guerra dos Trinta Anos e parte do século XVII, sapatos quadrados foram vistos ocasionalmente para os homens.
Fig. 4 – Sandália grega, com cinta entre os dedos do pé e alças laterais comprimindo o quinto dedo.
Fig. 5 – Desenho de fragmento da estátua de Apolo, encontrado em Phyaleia, agora no museu britânico, mostrando deformidade do quinto dedo pela correia cruzada.
Chinelos medievais e orientais não prendem o calcanhar e permitem que o pé deslize para trás sem apertar a frente do pé. Sandálias fornecem uma proteção para a planta e são fixadas por algum tipo de fita ou cinta de couro ou fibra. A mais antiga forma de sandália é vista em esculturas assírias, ela é pressa por uma cinta ao redor do dedão do pé que se une com as cintas laterais da sola e detrás do calcanhar. Na sandália egípcia, uma cinta passa entre o primeiro e o segundo dedo, saindo do meio da frente da sandália e passando sobre o dorso do pé, ligada com tiras às laterais da sandália. Esse tipo de sandália é a mais comum e se assemelha às atuais sandálias japonesas, mexicanas e da América do Sul. A antiga sandália tolteca foi equipada com duas tiras, uma passa entre o primeiro e o segundo dedo do pé e a outra entre o terceiro e o quarto. A sandália da Somália é um pedaço de cinta que prende o segundo dedo do pé, deixando os outros dedos livres.
Fig. 6 – Estátua egípcia, museu britânico, mostrando a representação retificada dos dedos do pé
Os etruscos aparentemente usavam uma sandália com tiras cruzadas, uma cinta presa no solado entre o primeiro e segundo dedo cruzava sobre o segundo, terceiro e quarto dedo do pé, onde era fixada novamente à sandália, deixando o primeiro e o quinto dedo do pé livres e os outros dedos protegidos sob esta cinta (6).
6. Isto é visto em uma rara efígie de terracota do período etrusco (não influenciada pela arte grega), mostrando uma sandália totalmente diferente de todas as outras vistas anteriormente.
Em todas estas formas de sandálias nenhuma pressão é exercida sobre o quinto dedo do pé, mas a sandália com uma cinta transversal frontal para a inserção de toda parte dianteira do pé, vista no oriente, certa quantidade de pressão era exercida sobre o lado do dedo mínimo, como em um chinelo. Esta cinta era, contudo, tão solta quanto à alça transversal de um calçado para neve.
Fig. 7 – Pé de Hermes de Praxiteles, sem a cinta cruzada, mas mostrando a deformidade do dedo mínimo (quinto dedo).
Na sandália grega, no entanto, uma cinta transversal ou cintas estavam aparentemente ligadas por cordões reforçados, mantendo-as mais firmemente junto ao pé. As formas variavam grandemente. Na maioria, uma única cinta interdigital era pressa na cinta dorsal cruzada. Em algumas sandálias a cinta interdigital foi omitida, preservando uma ligeira depressão na parte da frente da sola, entre o primeiro e o segundo dedo do pé. As sandálias gregas e romanas deram liberdade a todos os dedos exceto ao menor dedo do pé, que estava deformado pela alça transversal, bem como por tiras oblíquas que, em algumas sandálias, passavam de trás para frente pelas laterais e cruzavam o dorso do pé, levantando e deformando o quinto dedo. Quando este laço era perfeitamente atado, as cintas interdigitais tornaram-se inúteis, a pressão sobre o dedo mínimo e a parte superior do pé impedia o seu escorregamento para frente. Esta sandália pode ser facilmente imaginada, supondo-se uma pedaleira de bicicleta com a ponta removida, deixando todos os dedos livres exceto o dedo mínimo.
Uma sandália deste tipo talvez não fosse desenvolvida no período inicial da história grega, mas a julgar pelas esculturas, o Cothurnus do período grego e romano tardio provavelmente era pouco diferente do período clássico (7). Além da sandália, os antigos às vezes usavam uma cobertura solta como um mocassim, que não afetavam a forma do pé.
7. Uma análise dos calçados gregos e romanos como visto nas esculturas é dificultada pelo fato de que, em muitos casos, a sandália é banalizada e apenas representada. Uma grande variedade também é encontrada no tipo mocassim, como mostrado nos fragmentos do Parthenon e as elaboradas sandálias dos imperadores romanos. Uma sandália pode ser vista na estátua grega de Ariadne, encontrada na Roma antiga e agora no museu britânico, mostrando alças laterais unidas a uma tira que cruza sobre todos os dedos e deforma o quinto dedo do pé. A sandália na estátua de Jason no museu do Louvre mostra uma incisura na sola no espaço entre o primeiro e o segundo dedo do pé, onde uma tira seria encaixada, mas não existe nenhuma tira interdigital, a sandália está aparentemente presa pelas cintas laterais de couro atadas sobre o dorso do pé. Uma sandália peculiar é vista em um grupo do período romano, no museu do Louvre, chamado Marte e Vênus, em que a depressão é delineada, permitindo que os dedos caíssem em um nível inferior. As sandálias romanas no museu de Cluny, encontradas perto do Reno, e no museu de Munique, mostram uma borda interna em linha reta que poderia ter satisfeito qualquer índio norte-americano, e as sandálias retratadas na tabuleta votiva grega no museu britânico, teriam sido aceitáveis para um japonês moderno. As estatuetas de bronze do jovem Baco, na coleção King Payne no museu britânico, mostram a compressão lateral da borda interna do pé e do dedo mínimo sem uma alça cruzando sobre os dedos, enquanto a estátua de Adriano, também no museu britânico, a Diana caçadora e o filósofo sentado, do Louvre, bem como muitas outras estátuas, mostram a compressão pelo laço formado pela cinta cruzada sobre os dedos.
Calçados deste tipo poderiam desenvolver a forma do pé vista no Hermes de Praxíteles, deformando o quinto dedo, permitindo a extensão total do quarto, terceiro e segundo dedo pela liberdade e força desenvolvida, permitindo a retificação do primeiro dedo, formando a curvatura da borda interna do pé na extremidade proximal do primeiro metatarsiano pela pressão da cinta oblíqua e também da curvatura da borda externa do pé pela maior pressão da alça sobre o dedinho do pé e não no metatarso. A cinta interdigital acentuou a separação do primeiro e segundo dedo e desviou o eixo dos dedos menores. Este pé ligeiramente distorcido foi visto nos modelos estudados pelos mestres gregos.
A influência dominante da arte grega explica o fato de que a forma do pé foi sendo copiada por todos os escultores que aceitaram a arte grega como sua fonte. No renascimento, onde os modelos foram usados por grandes mestres da pintura e da escultura, a deformidade para fora do primeiro dedo após o uso do calçado é comumente descrita e na escultura é ocasionalmente vista. Entre os realistas da escultura francesa moderna este defeito, também conhecido como Hallux Valgus, é adicionado ao defeito clássico, ou seja, a diferença exagerada entre o quarto e o quinto dedo e o arredondamento da borda externa do pé. Escultores modernos freqüentemente dão um maior ângulo de divergência para os eixos dos pés em figuras ortostáticas do que nas esculturas clássicas, sendo muito maior nas figuras egípcias ou bárbaras. Nesse sentido os artistas modernos estão copiando modelos com defeitos em detrimento de sua arte.
Fig. 8 – Pé japonês, mostrando os dedos normalmente retificados.
Fig. 9 – Pintura de Sir Joshua Reynolds, mostrando a deformidade do primeiro e quinto dedos.
Isto pode ser discutido justamente, quando o uso convencional for admitido por um longo período de aceitação, sem violar as leis da beleza, justificando a sua existência por um direito de preferência; e seria uma hipercrítica se opor a ele. O argumento dificilmente se aplica a uma deformidade, que ao mesmo tempo parece inadmissível se instado por um artista chinês em defesa da beleza dos lírios dourados, como o chinês fantasia poeticamente os pés deformados das damas chinesas. As deformidades aqui mencionadas diferem em grau, mas não em espécie; desde que aceitas pelo seu uso na China, elas são também as distorções da natureza. Há uma saudável tendência na arte moderna de se revoltar contra o que parece uma convenção clássica e cópia da natureza, mas para isso, o artista precisa de um completo conhecimento que lhe permite apresentar o defeito observado em sua própria experiência como uma normalidade. A representação do corpete e do salto alto fere todas as exposições de arte moderna, mesmo quando um ideal é tentado. O escultor que modela “formas imortais” não deve perpetuar a deformidade (8). Não deve haver Zolaismo na escultura.
8. Os defeitos nos pé humanos nas figuras não são mencionados por completo e com todos os seus detalhes. Menos atenção é dada à modelagem nas imagens das esculturas. Em resumo, pode-se dizer que os defeitos mencionados são mais comuns nas pinturas, mesmo dos antigos mestres, do que nas esculturas – a deformidade em garra do quinto dedo é universal e o Hallux Valgus pode ser encontrado nas obras de todos os grandes mestres antigos. Na galeria em Amsterdam, uma tela de Henry Goltzius, de 1600, retrata a morte de Adônis com os pés entreabertos no primeiro plano exibindo dois hálux valgus com grave deformidade. Rubens nunca acreditou que seus erros apareciam diretamente sobre o espectador, mas suas falhas são graves, como é mostrado no livro de design no museu Plantin na Antuérpia e em quase todas as suas pinturas. Michelangelo, Ticiano, Tintoretto e Rafael, todos representaram o dedo mínimo deformado e freqüentemente o Hallux Valgus.
Poucos, mesmo entre os artistas, percebem como é comum encontrar defeitos imortalizados em obras de arte. O pescoço torto de Alexandre o Grande pode ser admitida em uma estátua de retrato, mas seria um erro admitir nas estátuas de todos os generais heróicos. Divindades com pés deformados, semideuses e semideusas com dedos desviados e heróis nacionais com pés supinados não podem ofender o observador exigente quando vistos em mármore duradouro ou bronze monumental. O pé normal se assemelha a uma combinação do pé escultural grego e egípcio. Isto é, a retificação da borda interna sem a leve curva ao longo da base do primeiro metatarso; o quinto dedo é paralelo aos demais, não é rodado ou deformado e não é localizado muito atrás da linha dos outros dedos; a borda externa é ligeiramente curva. Os dedos dos pés são flexíveis e não rígidos como em uma estátua egípcia, quando em repouso, estão ligeiramente flexionados, especialmente o quinto dedo. Pode-se dizer que um pé desse tipo não é tão gracioso como o que nos é apresentado pelo artista grego. Este argumento perde força na mente de quem viu os pés flexíveis não alterados pelo trabalho ou deformados por calçados. É certamente a competência do artista que nos fornece a beleza como ele a vê, mas ele deve encontrá-la dentro da linha da verdade. Isso é tão verdadeiro hoje como no tempo de Shakespeare, o qual na arte nós adicionamos a natureza. É a arte que a natureza nos dá.
O PÉ COMO FETICHE
Moacyr Scliar – Coluna do jornal Zero Hora, 25/11/2006, RS
A posição bípede adotada pela espécie humana em algum ponto de sua evolução se fez, literalmente, sobre os pés, que, junto com a coluna vertebral, pagaram o preço por esse decisivo avanço. Os pés passaram a suportar o peso do corpo. Os pés, ao contrário das mãos, que só ocasionalmente usam luvas, passaram a ser calçados, e nem sempre da forma mais cômoda. Resultado: dores, calosidades, deformações, inflamações. “Meus pés estão me matando” é uma acusação que frequentemente ouvimos e que contém um elemento de injustiça: não são os pés que castigam as pessoas, em geral é o contrário que acontece. E o pior é que os pés são vistos como o “locus” da fraqueza corporal, e isso não se refere exclusivamente ao calcanhar de Aquiles, aquele que, quando bebê, foi mergulhado por sua mãe Thetis no rio sagrado Styx. O procedimento tornou Aquiles invulnerável – menos no calcanhar, por onde Thetis o segurou. E, por causa de um ferimento no calcanhar, o herói veio a morrer. E falando de pés frágeis, lembremos o sonho que o rei Nabucodonosor narra ao profeta Daniel: ele vê uma gigantesca estátua, com cabeça de ouro, peito e braços de prata, pernas de ferro, mas pés de barro – estátua essa que, previsivelmente, desaba quando os pés são destroçados por uma pedra, antecipando assim uma catástrofe política.
Mas a humilhação dos pés não fica aí. No livro Fetiche: Inusitados Desejos Sexuais, Clavel Brand afirma que “o pé não pode, exceto em circunstâncias muito bizarras, ser considerado adequado objeto do desejo sexual. Os pés suam profusamente, e, como são isolados doar por meias e sapatos, têm cheiro desagradável”. Mesmo assim, reconhece o autor, é preciso admitir que muitos homens são fixados em pés femininos, não só aqueles pezinhos chineses que, mediante apertadas ataduras, não cresciam e ficavam pequenos e delicados. Não, pés de mulher em geral. “Tem sido sugerido”, continua Clavel Brand, “que a forma do pé feminino, e a do sapato, lembram a da vagina”. Coisa que ele reconhece como possível: não há limites para a imaginação do fetichista. Já o neurologista V.S. Ramachandran explica esse fetichismo (que, segundo estimativas, ocorreria em 1% dos homens), dizendo que pés e genitais têm representação cerebral em áreas contíguas do córtex, possivelmente conectadas.
Explicações à parte, o certo é que não faltam estímulos para aqueles que tem uma fixação em pés: vários sites na Internet são dedicados a isso. E Britney Spears, recentemente, fez crescer o entusiasmo ao revelar que a zona mais erógena de seu corpo é o pé: ela tem uma tatuagem no grande artelho de seu pé direito.
Mas não é preciso ser fetichista para cuidar dos pés. Eles agradecerão muito se a pessoa elevá-los quando ficar sentada muito tempo, se usar sapatos confortáveis, se não fumar (o fumo prejudica a circulação para os membros inferiores), se massageá-los de vez em quando, se hidratá-los. Depois disso, estarão prontos para qualquer fantasia. E para a realidade também.
Livro autobiográfico de Christy Brown, o décimo de 22 filhos de um pedreiro de Dublin (Irlanda). Ele sofreu grave paralisia cerebral logo após o seu nascimento, que lhe tirou a maioria dos movimentos do corpo, exceto o do pé esquerdo. Ele sobreviveu em meio a pobreza e ignorância de sua família . Não apenas sobreviveu, mas tornou-se o mais célebre entre todos os irmãos, numa história de auto-superação e força de vontade ímpar em todo o mundo.
Sua infância é marcada pelo preconceito e o desprezo do pai, que rejeita o filho por suas deficiências e por roubar o tempo e a atenção da esposa. A mãe é a única que efetivamente demonstra amor pelo garoto, estando sempre pronta a ajudar. É ela quem ensina aos outros filhos a respeitar e ajudar Christy e vai apoiá-lo em todos os seus desejos, principalmente na sua independência.
Alfabetiza-se por vontade própria, começa a escrever e depois a pintar. Com o tempo, ele se torna o mantenedor de toda a família.
Seu brilhantismo e simpatia conquistam uma enfermeira chamada Mary Carr, com quem se casa.
A parte mais independente e viva de Christy Brown sempre foi sua mente geniosa e determinada, mas, seu corpo, teve apenas o pé para atender aos comandos dessa mente brilhante. E é apenas com este pé que ele vai se tornar escritor, artista plástico e filósofo.
O livro foi para o cinema com o papel principal estrelado por Daniel Day Lewis e dirigido por Jim Sheridan (o mesmo diretor de O Lutador) e é um dos mais importantes dramas bibliográficos transformado em filme, ganhando o Oscar de melhor ator e de melhor atríz coadjuvante em 1990.
O filme mostra um prolongado diálogo entre Christy e a esposa, intermediado por flashes em sequência dos seus primeiros anos, desde a infância até tornar-se adulto, quando começa a lutar pela própria liberdade de expressão.
Todavia, o livro autobiográfico de Christy, no qual o filme foi inspirado, denuncia que Mary, na verdade, era uma prostituta que o explorou e o negligenciou até que este morresse precocemente aos 49 anos de idade.
Meu Pé Esquerdo não é só mais uma história de auto-superação, é um clássico que ensina e ao mesmo tempo constrange, pois é dotado de altas doses de sensibilidade, verdade e genialidade.
Essa coleção de figuras mostra telas, tapeçarias e desenhos de diversos artistas famosos da época do renascimento até os dias de hoje. As formas de representar, os detalhes e o contexto empregado nessas pinturas estão diretamente relacionadas com o pé e suas variações anatômicas.
Elas foram obtidas de diversas fontes; algumas fotografadas por mim, outras em colaboração, principalmente da apresentação que me inspirou para construir esta página, de autoria do Dr. Pier Carlo Pisani intitulada ” Il Piede Profilo Culturale” proferida em maio de 2008 no 57º curso teorico-prático de atualização em cirurgia do pé em Santa Vittoria D’Alba na Itália.
Agradeço a todos.
1. A imagem de 1420 demonstra Santa Elisabete da Hungria oferecendo o pão para dois enfermos com deformidades no pé e na perna usando bengalas. Esta imagem é de uma coleção de miniaturas de obras impressas no livro texto do Hospital Medieval Espirito Santo de Nuremberg, Alemanha (1420), servindo como princípio orientador do sistema hospitalar da época.
Hospital Espírito Santo, Arquivo Estadual, Nuremberg, Alemanha
2. Raffaelo Sanzio (1483 - 1520) pintou vária obras sobre a vida e atos dos apóstolos de Cristo. Em 1515 fez um desenho retratando o primeiro milagre de Pedro após a crucificação de Cristo: ” The heal of Lame Man” – A cura do homem coxo (aleijado, manco).
A figura relata o momento em que os Apóstolos Pedro e João encontram na porta do Templo de Jerusalém um homem coxo pedindo esmolas e lhe dão a cura de seu mal. Pedro, apontando para o céu, disse: “Não tenho ouro nem prata , mas o que eu tenho eu te dou. Em nome de Jesus, o Nazareno, levanta-te e anda! ” Pedro pegou-o pela mão e levantou-o, agora os pés e os tornozelos do homem estavam fortes, ele levantou-se e começou a andar ao redor, entrou no templo andando e louvando a Deus juntamente com Pedro e João.
Pintura original exposta no museu Victoria e Albert em Londres.
Este desenho foi utilizado como modelo para a tapeçaria de mesmo nome utilizada na Capela Sistina e atualmente exposta na pinacoteca do museu do Vaticano.
3. O francês Nicolas Poussin (1594 - 1665) também pintou em óleo sobre tela esse episódio em 1655. A tela está exposta no Museu Metropolitano de Nova Iorque.
4. As pinturas abaixo são de Masolino da Panicale (1383 - 1447) e decoram as paredes da Capela Brancacci da Igreja de Santa Maria del Carmine em Florença, Itália.
Na parede direita da capela aparece novamente a representação do milagre de Pedro, ” A Cura do Homem Coxo”, e no mesmo quadro, “A Ressureição de Tabita”, um dos milagres de ressuscitação realizado pelo apóstolo de Cristo.
5. ”Alimentando os Famintos” (1504) – Mestre de Alkmaar - Rijksmuseum – Museu Nacional - Amsterdam – Holanda
Tela intitulada ”Alimentando os Famintos”, retrata uma senhora distribuindo pães para os mendigos. Entre eles um homem com deformidade em ambos os pé e pernas, utilizando uma espécie de apoio em tripé nas mãos para se locomover.
Tela que faz parte da coleção ”As Sete Obras de Caridade” de un pintor holandês anônimo, de pseudônimo ”Mestre de Alkmaar” datada de 1504.
Em Mateus 25:31-46 , Cristo explica que as pessoas terão que responder por seus atos no Juízo Final . Ele então enumera seis obras de caridade , dizendo: ‘ Em verdade vos digo que, uma vez que tiverdes feito isso até , pelo menos um destes meus pequeninos irmãos, tendes feito a mim “. O sétimo trabalho de caridade, enterrar os mortos , é derivado do livro de Tobias 1:17, e só foi oficialmente adicionado aos seis mencionado em Mateus , no início do século 13.
As sete obras de caridade são : alimentar os famintos, refrescar a sede, vestir os nus, hospedar os viajantes, visitar os doentes, confortar os presos e enterrar os mortos.
Essas sete obras de caridade foram pintadas pelo artista anônimo em sete telas e estão espostas no Museu Nacional de Amsterdam – Holanda.
6. O espanhol José de Ribera, também chamado de “Lo Spagnoletto”, “O espanholzinho”, por sua baixa estatura – nasceu em Xativa (1591) e foi um dos maiores pintores europeus do século XVII; viajou e trabalhou na itália ao lado de Caravaggio e morreu em Nápoles (1652).
Nesta tela de 1642 ele retrata um pequeno mendigo, menino aleijado, provavelmente pela paralisia infantil. Em sua mão esquerda carrega um papel escrito: “Da Mihi Elimosinam propter AmoremDei – Dá-me esmola pelo amor de Deus”, porém, seu rosto mostra-se sorridente e confiante na sua fé. Este quadro representa uma crítica contra o protestantismo do século XVII, exaltando o poder das boas ações Cristãs.
Local : Museu do Louvre – Paris
7. Jacques Callot (Nancy, Fr; 1592 - 1635) desenhista francês tinha um talento singular para imaginar posturas, fisionomias, trajes e figuras extravagantes. Sua cidade, Nancy, foi sitiada e humilhada com a entrada do exército de Luís XIII. Durante a guerra desenhou os suplícios e sofrimentos em uma série de dezoito imagens, além da outras inúmeras ilustrações impactantes e disformes.
Esses desenhos acima são da série “GUEUX (VAGABUNDO)” e retrata a miséria e as doenças da população de Nancy durante a guerra.
Local: Museu Histórico Lorrain, Nancy – França
8. Entre os vários milagres de Cristo, em um deles houve a cura de dez leprosos na divisa entre Samária e Galiléia. Este afresco representa essa passagem. No detalhe vemos um homem com amputação da perna esquerda e outro sem os dois pés.
Obra: ” Miracoli di Cristo” – O milagre de Cristo (Século XIII) – Anônimo
Local : Cúpula do batistério da Catedral de Parma – Itália
9. Cena de estrada com arquitetura romana de Johannes Lingelbach (1622 - 1674)
Retrato da vida romana, o povo e a arquitetura. Um homem com o pé recentemente amputado caminha entre os cidadãos.
Local: Worcester Art Museum – Worcester – USA
10. Pieter Bruegel, “O velho”, (1530 - 1569) é considerado um dos melhores pintores Flandres do século XVI. Retrata o cotidiano e cenas populares, além da sua predileção por paisagens, pintou quadros que realçavam o absurdo na vulgaridade, expondo as fraquezas e loucuras humanas, que lhe trouxeram muita fama.
Obra: ” Os Aleijados”
Local: Museu do Louvre – Paris – França
11. Napoleão, com uma lesão no pé, é tratado pelo seu cirurgião Yvan após a vitória contra o império austríaco na guerra de Regensburg, de 19 a 23 de abril de 1809.
Durante a batalha, Napoleão foi ferido por uma bala austríaca, que atingiu seu calcanhar. A bala foi disparada de longa distância, ferindo levemente o imperador. Este foi o único momento em que Napoleão foi ferido em todas as suas campanhas. Os franceses derrotaram o exército de Carlos Luis da Áustria, que se refugiaram em Bohemia, deixando aberto o caminho francês para Viena.
Retratado por Pierre Gautherot (1765 – 1825) em 1810.
Local: Museu Nacional do Castelo de Versailles – Paris – França
12. Desenho de Magni de 1580 – Cuidados com o pé reumático
Retirado do livro de Ange Pierre Leca: ” A História Ilustrada da Reumatologia” 1984 – França
13. Leonardo Da Vinci
Leonardo da Vinci (1452, Vinci – 1519, Amboise) foi uma das figuras mais importantes do Renascimento que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor,anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico.
Leonardo frequentemente foi descrito como símbolo do Renascimento, alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela sua capacidade de invenção. É considerado um dos maiores pintores de todos os tempos e possivelmente a pessoa dotada de talentos mais diversos a ter vivido. Nascido como filho ilegítimo de Messer Piero Fruosino di Antonio, um notário florentino e de Caterina, uma camponesa, na cidade de Vinci, na região da Florença; foi educado no ateliê do renomado pintor florentino, Andrea del Verrocchio. Passou a maior parte do início de sua vida profissional a serviço de Ludovico Sforza (Ludovico il Moro), em Milão; trabalhou posteriormente em Roma, Bolonha e Veneza, e passou seus últimos dias na França, numa casa que lhe foi presenteada pelo rei Francisco I.
Como cientista, foi responsável por grande avanço do conhecimento nos campos da anatomia. Seus estudos anatômicos sobre o corpo humano e de vários animais teve estímulo pela insistência de seu professor Andrea del Verrocchio. Como artista, ele rapidamente se tornou um mestre da anatomia topográfica, realizando muitos estudos dos músculos, tendões e outras características anatômicas visíveis.
Como um artista de sucesso, ele recebeu a permissão para dissecar cadáveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova, em Florença e mais tarde no hospital de Milão e Roma. Entre 1510 e 1511, colaborou em seus estudos o médico Marcantonio della Torre e juntos elaboraram um trabalho teórico sobre a anatomia, em que Leonardo fez mais de 200 desenhos. Este trabalho foi publicado apenas em 1680 (161 anos após sua morte), integrando o Trattato della Pittura.
Leonardo desenhou muitos estudos sobre o esqueleto humano e suas partes, bem como o sistema nervoso, o coração, as artérias, as veias, os órgãos sexuais e outros órgãos internos. Ele fez um dos primeiros desenhos científicos de um feto no útero. Leonardo observou e registrou cuidadosamente os efeitos anatômicos e fisiológicos da idade e da emoção sobre o corpo humano, estudando em particular os efeitos da raiva. Ele também desenhou muitas figuras importantes que tinham deformidades faciais e sinais de doenças.
Ele também estudou e desenhou a anatomia de diversos animais, dissecando vacas, cavalos, aves, macacos, ursos e rãs; e comparava seus desenhos em sua estrutura anatômica com os dos seres humanos.
Pintor: Leonardo Da Vinci
Obra: Estudos Anatômicos do Pé
14. Século XX
Pintora: Cameron Hampton (Atlanta,1968)
Obra: Old Hands and Tired Feet (1996)
Local: Acervo pessoal
Na Idade Média, houve um grande desenvolvimento da prática da medicina, que envolveu atendentes, açougueiros e barbeiros. Eles usavam poções e elixires, faziam sangrias, amputações, trepanações e pequenas cirurgias. Profissão que representava para a consciência pública como “impuros”, ocupação relacionada ao corpo humano, ao sangue e aos cadáveres, sendo rejeitada por muito tempo pela sociedade. A transição do aspecto mágico, da bruxaria, aconteceu no final da idade média; as profissões de açougueiro e barbeiro, como um médico prático começou a crescer.
No a fim da Idade Média, não havia hospitais; como regra, as igrejas e os mosteiros atendiam os doentes e feridos. O primeiro hospital criado foi em Bagdá (séc. VIII), sustentado pelo conhecimento médico dos árabes e persas, enquanto a europa permanecia na escuridão e na ignorância.
Somente por volta do século XV a europa começou a receber estudiosos e a sabedoria médica vinda do oriente médio. A invasão do império turco-otomano obrigou os fugitivos a migrarem para europa, levando consigo o conhecimento da medicina oriental chinesa, árabe, persa, grega e egípcia. Com esse aporte a europa entrou no renascimento com alguns direcionadores da medicina: a manutenção da saúde pelo controle da dieta e higiene dos Gregos, os estudos anatômicos e fisiológicos dos Árabes, a farmacologia dos Egípcios e a clínica, com suas inter-relações com o meio, através da energia vital dos chineses.
1. David Teniers – Pai e Filho
David Teniers I, “O Velho” (1582-1649)
Pintor flamengo que, embora sua ambição lhe conduziu às vezes tentar sua habilidade em composições religiosas, históricas e mitológicas, sua fama ocorreu principalmente pelas suas paisagens bucólicas e pinturas dos camponeses, que frequentemente são confundidas com os trabalhos mais aprimorados de seu filho David Teniers II, “O Moço”.
Pintor: David Teniers I, O Velho (1582-1649)
Obra: Operação do pé – Cirurgião tratando o pé de um camponês (séc. XVII)
Local: Museu de Belas Artes – Rennes – França
David Teniers, “O moço” (Antuérpia (1610) — Bruxelas (1690)).
Ele era o filho e aluno de David Teniers I, o Velho. Mais importante que seu pai, era também um pintor flamengo do período barroco conhecido por suas cenas da vida camponesa. Em 1637 casou-se com Anna, filha do pintor Jan Brueghel, o Velho.
Pintor: David Teniers II, O Moço (1610-1690)
Obra: Operação do pé – Cirurgião tratando o pé de um camponês – 1660
Local: Museu do Prado – Madrid – Espanha
Outros pintores que seguiram a escola de Teniers e inspiraram-se na tela ” Operação do pé ” reproduziram esta cena em suas obras:
Pintor: Anônimo
Obra: Reprodução da Cena: Cirurgião tratando o pé de um camponês – 1663
Local: Galeria de Arte da Universidade de Göttingen – Alemanha
Pintor: Anônimo
Obra: Reprodução da Cena: Cirurgião tratando o pé de um camponês
Local: The National Gallery - Londres - Inglaterra
Pintor: Anônimo
Obra: Reprodução da Cena: Cirurgião tratando o pé de um camponês
Local: Museu Kelvingrove – Glasgow – Inglaterra
Pintor: Isaac Koediyak
Obra: Reprodução da Cena: Cirurgião tratando o pé de um camponês
Pintor: Thomas Major (1720 – 1799), eminente desenhista e gravador inglês.
Obra: Reprodução da Cena: Cirurgião tratando o pé de um camponês – 1747
Local: Wellcome Library - Londres - Inglaterra
Pintor: Adriaen Brouwer (1605 -1638)
Obra: The Operation (A Cirurgia)
Local: Alte Pinakothek (Antiga Pinacoteca) - Munique - Alemanha
Segundo a descrição, um jovem homem da cidade de Pádua, chamado Leonardo, confessou a Santo Antônio que havia discutido e chutado com violência a sua própria mãe. Santo Antônio, lamentando o ato com um ar de desaprovação, duramente disse: “O pé que bate no pai ou na mãe deve ser cortado”. O homem não entendendo o real significado das palavras, cortou o próprio pé. Após ficar sabendo da notícia, Santo Antônio foi acudir Leonardo e explicar seus dizeres. Imediatamente Santo Antônio segurou o tornozelo cortado e fazendo o sinal da cruz reimplantou o pé amputado, de modo que o homem levantou- se alegre e reconstruído, aplaudindo, saltando e louvando a Deus.
Pintor: Girolamo Tessari - "Girolamo dal Santo "
Obra: Miracolo del Piede Riattaccato – Afresco de 1530
Local: Santuário del Noce - Santuário Antoniano de Camposampiero, Itália
Muitas outras obras importantes reproduzem este episódio da vida de Santo Antônio:
Pintor: Anônimo - do círculo de Agnolo degli Erri (Ativo no Século XV)
Obra: Il miracolo del Piede Riattaccato
Local: Galleria Nazionale, Parma, Itália
Pintor: Vincenzo Foppa (1427-1515), um dos principais líderes do renascimento na Lombardia antes da chegada de Leonardo da Vinci em Milão.
Obra: Il miracolo di Narni
Local: Capela Portinari, Igreja de Sant’Eustorgio, Milão, Itália
Pintor: Tiziano Vecellio (1490 - 1573)
Um principais representantes da escola veneziana no renascimento, antecipando diversas características do barroco e até do modernismo.
Ele também é conhecido como Tizian Vecellio De Gregorio, Ticiano Vecelli, Titian ou ainda como Titien.
Obra: Il Miracolo del Piede (1511)
Local: Basilica Sant'Antonio di Padova - Vaticano, Itália
Na liturgia católica, o termo lava-pés designa o gesto que se pratica na Quinta-Feira Santa em que o Padre, assistido por dois auxiliares, lava o pé direito de 12 homens, à imitação e em celebração do que fez Jesus a seus discípulos na Última Ceia.
Muito além da liturgia católica, o lava pés significa a insistência de Jesus no papel dos cristãos e da igreja. O serviço, a humildade, o colocar-se abaixo, considerar uns aos outros superiores a si mesmo.
“Levantou-se da ceia, tirou o manto e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. Chegou, pois, a Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, lavas-me os pés a mim? Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço, tu não o sabes agora; mas depois o entenderás. … Entendeis o que vos tenho feito? Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo: Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.” – João 13:4-17
Pintor: Giotto di Bondone
Obra: O Lava-Pés
Local: Cappella degli Strovegni (Capela Arena), Pádua, Itália
Giotto (1266 -1337) foi um pintor e arquiteto italiano. Nasceu perto de Florença, foi discípulo de Cinni di Pepo (Cimabue). Ele é considerado o introdutor da perspectiva na pintura da época e é considerado por Bocaccio o precursor da pintura renascentista. Giotto é o elo entre o renascimento, a pintura medieval e a bizantina.
A Capella degli Scrovegni, também chamada Capela Arena, em Pádua, é considerada o maior trabalho de Giotto. Ele retrata cenas da Virgem Maria e da Paixão de Cristo e foi criada entre 1303 e 1310.
Pintor: Tintoretto
Obra: Cristo Lavando os Pés dos seus Discípulos (1547)
Local: Museu do Prado, Madrid, Espanha
Tintoretto, como era conhecido Jacopo Comin, (1518 – 1594, Veneza) foi um dos pintores mais radicais do Maneirismo, movimento artístico renascentista. Por sua energia fenomenal em pintar, foi chamado Il Furioso, e sua dramática utilização da perspectiva e dos efeitos da luz fez dele um dos precursores do Barroco. Seu pai, Battista Comin, era “tintore” (tingia seda), o que lhe valeu o apelido. Também era conhecido como Jacopo Robusti.
Pintor: Paolo Veronese
Obra: Cristo Lavando os Pés dos seus Discípulos (1580)
Local: Galeria Nacional de Praga (Národní Muzeum), República Tcheca
Paolo Cagliari, ou Caliari (1528, Verona — 1588,Veneza) foi um importante pintor maneirista da Renascença italiana. Incorporou topônimo que o tornou conhecido, na própria Itália, “Il Veronese” ou Paolo Veronese, por haver nascido em Verona. Sua produção e vida artística, porém, desenvolveram-se em Veneza.
Pintor: Giovanni Agostino da Lodi (1495 – 1525)
Obra: A Lavagem dos Pés (1520)
Local: Gallerie dell’Accademia, Veneza, Itália
Pintor: Pietro Lorenzetti (1280-1348)
Obra: A Lavagem dos pés (1320)
Local: Basilica di San Francesco di Assisi, Assis, Itália
Pietro Lorenzetti (1280 – 1348, Siena) foi um pintor italiano da escola Sienesa. Ele trabalhou aproximadamente de 1306 até 1347. Foi influenciado por Giovanni Pisano, Giotto, e trabalhou com Simone Martini em Assis. Ele e seu irmão também pintor, Ambrogio Lorenzetti, ajudaram a introduzir o naturalismo na arte de Siena.
Estes desenhos representam indivíduos da aristocracia, obesos, sentados em frente ao fogo para amenizar a dor da inflamação causada pela gota em seus pés, suas expressões de dor e desespero traduz a dificuldade na época do controle dessa doença.
Desenhos anônimos do século XIX
Uma das mais antigas doenças descritas pela humanidade. A história da gota confunde-se com a história da humanidade e pode até ter contribuído para a sua mudança.
A gota é uma alteração metabólica das proteínas (Purinas) que leva ao aumento do ácido úrico no sangue e sua deposição como cristais no interior das articulações. Um dos locais mais afetados é a articulação do maior dedo do pé, a chamada podagra.
A carne é a principal fonte de purinas (proteínas precursoras de ácido úrico) e, porque a mesma só estava ao alcance dos mais ricos, durante séculos a gota foi considerada a doença dos poderosos e só nos últimos 50 anos se democratizou e até proletarizou.
Entre esses poderosos gotosos, estão 19 dos 30 imperadores romanos, que sofriam de gota saturnina, 7 papas, 8 reis de França, 5 reis de Inglaterra, 2 reis de Portugal, 5 Médici, 8 duques de Lorena e muitos outros, como Alexandre o Grande, Miguel Ângelo, Calvino, Lutero, Carlos V, Darwin, Diderot, Disraeli, Frederico II da Prússia, Goethe, Machiavelli, Milton, Mirabeau, Egas Moniz, Horácio Nelson, Newton, Conde Duque de Olivares, Richelieu, Casanova, Sade, Swift, Nostradamus, Petrarca, Dickens, Conrad, Thomas More, Neruda, e muitos outros escritores, poetas, políticos, generais, almirantes e homens de Estado.
Outros desenhos que abordam o tema GOTA: Artrite Gotosa, Doença Gotosa, Podagra
“Grandpapa’s Torments” de J. T. Wilson, 1845 (US National Library of Medicine)
“Origin of the Gout” de Henry William Bunbury, 1815 (US National Library of Medicine)
“The Gout” de James Gillray , 1799
Essa coleção de imagens mostra diversas esculturas, da época do renascimento até os dias de hoje. As formas de representar, os detalhes e o contexto empregado nessas esculturas estão diretamente relacionadas com o pé e suas variações anatômicas.
Elas foram obtidas de diversas fontes; algumas fotografadas por mim, outras em colaboração, principalmente da apresentação que me inspirou para construir esta página, de autoria do Dr. Pier Carlo Pisani intitulada ” Il Piede Profilo Culturale” proferida em maio de 2008 no 57º curso teorico-prático de atualização em cirurgia do pé em Santa Vittoria D’Alba na Itália.
Agradeço a todos.
1. Esta é uma das 28 esculturas em alto relevo da porta sul do batistério de Florença, realizada por Andrea Pisano (Andrea da Pontedera) em 1336 . As esculturas representam cenas da vida de São João Batista e as virtudes.
Representação de um homem com sequela de pé torto congênito.
2. Estatueta Ashanti (grupo étnico ao sul de Gana – África), representando uma menina com deformidade em ambos os pés.
Século XIX – Galeria Awale em Saint Paul de Vance – França
3. " Spinario " – Representação de um menino retirando espinho do pé
Autor desconhecido – Exposta no Museu Capitolino no Palazzo dei Conservatori - Roma
4. “Miracolo del Piede Riattaccato” – Milagre do Pé Recolocado ou “Miracolo del Figlio Pentito” – Milagre do Filho Arrependido, realizado por Santo Antônio de Pádua .
Painel em bronze com douramento, esculpido em 1446 por Donatello (Donato di Niccolò di Betto Bardi (1386 – 1466))
Um dos quatro painéis da série ” Os Milagres de Santo Antônio de Pádua” esculpidos por Donatello.
Segundo a descrição, um jovem homem da cidade de Pádua, chamado Leonardo, confessou a Santo Antônio que havia discutido e chutado com violência a sua própria mãe. Santo Antônio, lamentando o ato com um ar de desaprovação, duramente disse: “O pé que bate no pai ou na mãe deve ser cortado”. O homem não entendendo o real significado das palavras, cortou o próprio pé. Após ficar sabendo da notícia, Santo Antônio foi acudir Leonardo e explicar seus dizeres. Imediatamente Santo Antônio segurou o tornozelo cortado e fazendo o sinal da cruz reimplantou o pé amputado, de modo que o homem levantou- se alegre e reconstruído, aplaudindo, saltando e louvando a Deus.
Local: Altar da basílica de Santo Antônio em Pádua – Itália
5. Pietá de Michelangelo, mármore de Carrara, esculpida em 1498. Sua primeira grande obra e única a ser autografada; Michelangelo tinha apenas 23 anos, por isso gravou seu nome na faixa que atravessa o peito de Maria.
Um dos pés mais bem esculpidos, anatômicos e ricos em detalhes. O pé esquerdo de Jesus Cristo apresenta-se pendente e plano, com os detalhes na pele das dobras sobre o tendão de Aquiles e a elevação do tendão tibial posterior. O pé direito toca parcialmente o solo sobre o vestido de Maria e apresenta ricos detalhes anatômicos dos ossos e músculos da região do tornozelo e dos dedos.
Local: Basílica de São Pedro – Roma
O enfaixamento dos pés foi um costume chinês praticado nas crianças e adolescentes durante quase mil anos, desde o início do século X até a primeira metade do século XX.
A prática de enfaixar os pés durante o período de crescimento das meninas jovens ocasionava fraturas nos ossos e desvios articulares. Progressivamente os pés ficavam deformados e com seu tamanho reduzido, além de ser extremamente doloroso e incapacitante para as meninas e adolescentes submetidas a essa prática.
Várias teorias tentam explicar a origem do enfaixamento dos pés. Os pés pequenos eram louvados pelos poetas desde época de Confúcio, 2.500 anos atrás. A deformação para redesenhar o pé das mulheres se tornou o mais belo e o mais excitante espetáculo de sensualidade da época. O pé da mulher adulta estava condicionado a ser um eterno pé infantil e esse desejo de imitar os minúsculos pés de uma concubina tinha o motivo do erotismo pela cultura chinesa.
Além disso, caminhar sobre os pés deformados necessitava dobrar os joelhos e balançar o corpo para realizar o movimento adequado. Este balanço para caminhar ficou conhecido como a “Marcha de Lótus” e foi considerado, pelos homens da época, sexualmente excitante.
Outra suposição seria um fato histórico de 970 dC, no reinado de Li Yu. Durante uma apresentação de dança, em cima de um pedestal em forma de lótus dourado, a dançarina colocou seus pés em longas tiras de pano de seda, como as faixas de uma bailarina atual. Li Yu ficou tão emocionado com a beleza de seus movimentos que outras mulheres seguiram o exemplo dos “Pés de Lótus”. O que começou como uma ferramenta para facilitar a dança foi gradualmente adotada como moda entre a classe alta. As mulheres começaram a enfaixar seus pés, concentrando-se cada vez mais atentamente sobre a forma desejada e o tamanho do pé. Como era inevitável, a popularidade das classes superiores propagou-se à todos os níveis da sociedade, o que era apenas um modismo, tornou-se um modo de vida para milhões de mulheres em toda a China.
O que se sabe ao certo é que a deformação dos pés foi praticada entre a elite e nas regiões mais ricas da China. A prática representava a liberdade das mulheres do trabalho manual e, ao mesmo tempo, a capacidade de seus maridos de manter as esposas, que não precisavam trabalhar e que existiam unicamente para servir aos seus homens e ordenar os empregados domésticos.
Essa prática era muito popular e sinônimo de status social. O marido e os demais familiares tinham grande orgulho dos pés minúsculos que haviam alcançado a desejada forma de pétala de lótus. Esse orgulho se refletia nas pantufas de seda, bordadas minuciosamente, que as mulheres usavam para cobrir os pés.
Por volta do século 17, a maioria das meninas chinesas, inclusive das classes mais pobres, tiveram seus pés enfaixados. Era menos freqüente entre as mulheres que trabalhavam para viver, especialmente nos campos.
No século 19 cerca de 40 a 50 % das mulheres chinesas haviam enfaixado seus pés. De modo geral, a prática do enfaixamento era mais difundida pelo grupo étnico Han, do norte da china e que representava 90 % da população. Os grupos Hakka e Manchu, do sul da china, não praticavam o enfaixamento. Muitos outros grupos étnicos somente conheciam o costume e algumas mulheres praticavam de forma menos deformante e traumática, somente para reduzir o tamanho do pé, sem a necessidade de fraturar os ossos do arco e dos dedos.
Mais tarde, as mulheres da etnia Manchu, que estavam proibidas de enfaixar seus pés e que supostamente invejavam a Marcha de Lótus, inventaram seu próprio tipo de sapato que imitava o caminhar balançado. Elas usavam sapatos tipo “vaso de flor”, uma plataforma elevada, geralmente feita de madeira ou com um pequeno pedestal central.
A deformidade dos pés se tornou uma importante diferenciação entre mulheres Manchu e Han.
O Erotismo:
Os pés deformados pelo enfaixamento eram considerados intensamente eróticos na cultura chinesa. Um velho ditado chinês dizia: “Existem mil baldes de lágrimas para a mulher que enfaixa seus pés e cinco mil para a mulher que não o faz”. O fato de ter pés normais era considerado ridículo e motivo de zombaria e depreciação. Era praticamente impossível arranjar um marido do mesmo status social e, nas classes mais pobres, as mulheres não poderiam esperar mais do que serem serviçais ou escravas.
Para os homens, o efeito erótico primário era em função da marcha de lótus, em pequenos passos e balançando o corpo. As mulheres com pés deformados evitavam colocar o peso na parte dianteira do pé e caminhavam apoiando predominantemente os seus calcanhares. Como resultado, as mulheres caminhavam de forma prudente e cuidadosa.
Alguns homens preferiam não ver os pés de suas esposas, de modo que elas os mantinham sempre escondidos dentro de pequenos “sapatos de lótus” ou embrulhados. O próprio fato dos pés deformados permanecerem escondidos dos olhos dos homens era sexualmente atraente para eles. Por outro lado, um pé descoberto teria um odor fétido, ocasionado pela dificuldade de manter a higiene entre as várias dobras de pele.
Havia a idéia que se o marido removesse os sapatos e as faixas, o sentimento estético seria destruído para sempre; um entendimento de que a fantasia erótica simbólica dos pés enfaixados não correspondia à sua realidade física desagradável e eram, portanto, mantidos escondidos.
Outro atributo dado era a limitação da mobilidade da mulher, sua incapacidade de participar da vida política e social. Elas ficavam dependentes de suas famílias e, em particular, de seus maridos, tornando-se um símbolo de fascínio pela castidade e pela apropriação pelo sexo masculino, uma vez que a mulher ficava muito restrita ao lar e não podia aventurar-se muito longe sem o acompanhamento de alguém da família.
O Método:
Deformar os pés envolvia em dobrar progressivamente os dedos e o arco do pé, que finalmente formava uma cunha com uma fenda de aproximadamente 5 cm de profundidade. O objetivo era alcançar um pé com cerca de 7 a 9 cm de comprimento. Esse processo demorava cerca de dois anos para conseguir o efeito desejado.
O método de enfaixamento era iniciado antes do desenvolvimento completo do pé, geralmente entre quatro e sete anos. Nessa idade os pés são bastante flexíveis e os ossos ainda possuem uma grande parte de cartilagem.
O enfaixamento começava durante os meses de inverno, para que o frio entorpecesse os pés e diminuísse a dor causada.
Primeiramente, cada pé era embebido em uma mistura quente de ervas e sangue de animais para relaxar a musculatura e suavizar a pele. As unhas dos pés eram cortadas o mais rente possível, para evitar lesões e infecções.
Os pés da moça eram delicadamente massageados e ataduras de algodão de 3 metros de comprimento e 5 centímetros de largura eram banhadas na mistura de sangue e ervas.
Para modelar a parte da frente do pé, os dedos eram pressionados com grande força para baixo e apertados contra a sola, essa manobra muitas vezes ocasionava fraturas e luxações articulares dos dedos.
Todo o procedimento era realizado sem o alívio da dor e os dedos eram mantidos firmemente presos com o enfaixamento ao redor da porção frontal do pé.
Para reduzir o tamanho dos pés, com a perna estendida, o calcanhar era tracionado para frente do pé, quebrando e aumentando o arco plantar. Essa posição era mantida com as faixas passadas em forma de oito, a partir da parte interna do pé, passando pelo dorso, ao longo dos dedos, sob o pé e em volta do calcanhar, repetidamente.
Assim, os dedos quebrados recentemente eram pressionados firmemente contra a planta do pé juntamente com a tração do calcanhar para frente, fazendo com que o pé se dobrasse em seu arco. Todo esse procedimento ocasionava forte dor nas jovens chinesas.
Após a conclusão do enfaixamento, o pano era costurado firmemente para impedir a menina de afrouxá-lo. Quando esta bandagem úmida secava, havia maior firmeza e constrição, apertando ainda mais a pé e os dedos.
Nas famílias mais ricas esse procedimento era realizado quase que diariamente e, nos camponeses, duas ou três vezes por semana.
A cada troca das faixas os pés eram lavados, os dedos cuidadosamente examinados para verificar se haviam lesões e as unhas cuidadosamente aparadas. Os pés eram novamente manipulados e massageados. Imediatamente era realizada nova compressão e o enfaixamento era feito cada vez com mais força.
Geralmente quem realizava o procedimento era a avó ou algum profissional da técnica da região. Não era preferível que a mãe fizesse o enfaixamento, pois ela poderia ser favorável emocionalmente com a dor da filha e não forçar suficientemente a forma do pé e nem apertar devidamente as faixas.
Um bom profissional da técnica ignorava os gritos de dor e apertava as ataduras ao máximo possível. Tinham experiência em fraturar cada um dos dedos em vários lugares e deslocá-los para baixo. Faziam as meninas sofrerem de dor extrema, mas o resultado final era melhor, atingindo aproximadamente os 7 centímetros ideais.
A menina não tinha permissão para descansar após o enfaixamento. Com muita dor, eram obrigadas a caminhar sobre os pés quebrados, para que seu próprio peso corporal ajudasse a pressionar e modelar seus pés na forma desejada.
O problema mais comum era a infecção. Apesar dos cuidados tomados regularmente, as unhas e as lesões da pele causavam infecção nos pés.
Quando havia infecção nas unhas ou encravavam, eram removidas totalmente.
A tensão do enfaixamento prejudicava a circulação dos pés; portanto, qualquer lesão nos dedos era difícil de curar e poderia levar à infecção. Se essa infecção atingisse os ossos, os dedos corriam o risco de serem amputados pela necrose. Por outro lado, essas complicações eram vistas de forma positiva, assim os pés poderiam ser apertados ainda com mais força.
As meninas cujos dedos eram mais grossos e rígidos, ás vezes, usavam-se cacos de vidro ou pedaços de telha quebrada inseridos entre os dedos, dentro do enfaixamento, para causar lesões e promover a infecção.
Quando a infecção era grave e acometia a totalidade do pé, a menina corria o risco de perder o membro ou até morrer de septicemia.
Durante o crescimento da jovem chinesa, muitos dos ossos do pé permaneciam quebrados durante anos e, mesmo após a finalização do enfaixamento e cicatrização, eles eram propensos a novas fraturas por pressão e pelo estresse mecânico.
As mulheres chinesas, com os pés deformados, não eram capazes de andar corretamente e precisavam ter funcionários para realizar a limpeza, cozinhar e cuidar dos filhos e do marido. Além disso, as mulheres idosas tinham maior probabilidade de cair e fraturar o quadril ou outros ossos do corpo.
No Século XX:
A prática do enfaixamento dos pés continuou até o século 20, quando imigrantes e chineses alfabetizados no ocidente retornaram e iniciaram a reforma cultural. Um verdadeiro movimento “anti-enfaixamento” surgiu. Os chineses começaram a perceber que este aspecto da sua cultura não refletia bem sobre olhos da comunidade mundial e as feministas atacaram a prática e o sofrimento causado às mulheres.
Na virada do século 20, a feminista Kwan Siew-Wah (conhecida no ocidente como Brigitte Kwan), defendeu o fim da prática do enfaixamento obrigatório. Kwan recusou-se realizar o enfaixamento imposto na infância, para que pudesse crescer com os pés normais.
Houve, mas sem sucesso, várias tentativas de parar a prática do enfaixamento obrigatório dos pés. Vários imperadores emitiram editais mal sucedidos contra essa prática. Em 1911, após a queda da dinastia Qing, o governo da nova República Popular da China proibiu o enfaixamento dos pés. As mulheres foram orientadas a desembrulhar os pés para não serem mortas. Alguns pés cresceram de 1 a 3 centímetros após a retirada das faixas. Essa atitude abalou emocionalmente e culturalmente o povo chinês.
A sociedade chinesa foi estimulada a apoiar a abolição dessa prática com acordos contratuais entre famílias, que prometiam o casamento de seus filhos com filhas que não tiveram os pés amarrados.
Quando os comunistas tomaram o poder na China em 1949, eles foram capazes de impor uma proibição estrita, inclusive em áreas isoladas da china. Em Taiwan, o enfaixamento foi proibido pelo governo japonês em 1915. Essa proibição permanece em vigor até hoje.
Estima-se que cerca de 2 bilhões de pessoas foram submetidas a esta prática, desde o século 10 até 1949, quando o enfaixamento dos pés foi proibido pelo regime comunista chinês.
Esta prática deixa sequelas e limitações funcionais para o resto da vida, atualmente algumas senhoras chinesas, nascidas até meados de 1940, ainda sofrem com a deformidade permanente dos seus pés.
Mesmo com essas deformidades graves muitas mulheres eram capazes de andar, trabalhar nos campos e subir para as casas no alto das montanhas. No início do século 20, dançarinas com os pés enfaixados eram muito populares. No final de 2005, mulheres com pés enfaixados da província de Yunnan formaram um grupo de dança conhecido internacionalmente para se apresentar para os turistas estrangeiros. Em outras regiões da china, senhoras de 70 e 80 anos ainda podem ser encontradas trabalhando nas plantações de arroz.
A mitologia refere-se ao estudo de mitos; histórias baseadas em tradições e lendas feitas para explicar o universo, a criação do mundo, fenômenos naturais e qualquer outra evento que explicações simples ainda não são atribuíveis.
A mitologia e as figuras mitológicas estão presentes e são proeminentes na maioria das religiões. O termo é freqüentemente associado às descrições de religiões fundadas por sociedade antigas como mitologia romana, mitologia grega, mitologia egípcia e mitologia nórdica.
Algumas histórias mitológicas podem nos trazer ensinamentos, revelar verdades fundamentais e pensamentos sobre a natureza humana, através do uso freqüente de princípios morais e sociais. Essas histórias expressam pontos de vista e crenças de um país, um período no tempo, cultura ou religião a qual lhes deu origem.
Todas as histórias apresentadas neste site possuem alguma relação contextual com o tema “Pé e Tornozelo”.
São compilações de várias fontes de informação sobre a mitologia mundial, principalmente dos trabalhos literários de dois gaúchos que escreveram a maior série de contos mitológicos do Brasil: A.S. Franchini e Carmem Seganfredo.
Boa Leitura!
Hermes, na mitologia grega, ou Mercúrio, na mitologia romana, nasceu nas cavernas do monte Cilene, na região de Arcádia, localizada na península do Peloponeso ao sul da Grécia.
Sua mãe, Maya Maiestas (Reia na mitologia romana), é também conhecida como Fauna, Boa Dea ou Ops. Filha de Atlas, na mitologia grega, era uma linda ninfa que seduziu o grande deus romano Júpiter (o grande deus grego Zeus). Maya equivale-se a deusa Primavera dos primeiros povos Italianos. O mês de maio foi nomeado em sua honra.
Maia, Júpiter e Mercúrio
Desde sua infância, Mercúrio manifestara-se um gênio, dotado de rara inteligência e perspicácia. Atribui-se a ele, ainda criança, a invenção da lira após colocar cordas em um casco de tartaruga vazio.
Certa ocasião, Mercúrio ainda criança, conseguiu esconder cinqüenta novilhas de Apolo atando ramos à cauda dos animais para que apagassem as marcas do trajeto. Tal feito, embora tivesse gerado reclamações, foi considerado por sua mãe Maya prova de inteligentíssima peraltice.
Só adulto, entretanto, é que se tornaria possuidor do Caduceu, bastão alado com duas cobras entrelaçadas. Mercúrio trocou sua lira pelo Caduceu de seu irmão Apolo, deus do Sol e da Profecia, segundo narra o poeta Virgílio, na Eneida, livro IV.
Mercúrio possuía um par de sandálias aladas, o que lhe imprimia velocidade e rapidez nas suas missões urgentes e inadiáveis, levando mensagens de seu pai Júpiter em sua irrequieta mobilidade.
Seu capacete alado (denominado Pétaso), o tornava invisível, o que lhe permitia avaliar atitudes e exercer controles sobre a ação de todos, oferecendo-lhe extremos poderes.
Mercúrio ainda carrega uma bolsa e é frequentemente acompanhado de um galo jovem, mensageiro do novo dia; de um carneiro ou bode, simbolizando fertilidade; e de uma tartaruga, referindo-se à sua legendária invenção da lira.
Mercúrio - Artus Quellinus - Séc.XVII
Além de conduzir recados, também conduzia as almas dos mortos até as margens do sinistro Aqueronte, o rio onde as almas cruzam embarcadas sob o comando do barqueiro Caronte.
Hermes no Aqueronte
Mercúrio era o mais ocupado de todos os deuses e o que possuía mais encargos. Por sua extrema habilidade e variados poderes, trabalhava intensamente. Deus veloz, corajoso e responsável. Nenhum deus era mais ágil, mais expedito, mais voluntarioso e, ao mesmo tempo, mais disciplinado do que Mercúrio.
Esta é a razão pela qual Mercúrio era o principal intérprete das vontades de Júpiter / Zeus e dos deuses do céu, fazendo cumprir as vontades supremas.
Sua participação no dilúvio, na história de Ulisses (o grande herói grego), na derrota e morte do monstro Argos, na condução de Dionísio, e tantos outros feitos, fizeram dele um personagem ímpar nas narrações mitológicas.
Uma das mais belas estátuas, que representam mercúrio, encontra-se em Florença, na Itália, e foi esculpida por Giambologna, fazendo parte da coleção do Palazzo Bargello. Mas, outras obras foram feitas para homenageá-lo, desde a antigüidade clássica, há quase dois milênios e meio.
Na mitologia romana Mercúrio é um mensageiro, deus da venda, do lucro e do comércio. Na mitologia grega, refere-se ao deus Hermes, protetor dos rebanhos, dos viajantes e comerciantes. Era o deus da eloquência, do comércio e dos ladrões, a personificação da inteligência.
Os romanos batizaram de Mercúrio o planeta mais perto do sol, em virtude do astro completar sua órbita mais rápido que qualquer outro. Em Roma faziam-se festas especiais a Mercúrio, denominadas Mercuriais. A quarta-feira foi dedicada à esse deus, o dia de Mercúrio (Miercoles em espanhol, Mercoledi em italiano e Mercredi em francês).
A mitologia refere-se ao estudo de mitos; histórias baseadas em tradições e lendas feitas para explicar o universo, a criação do mundo, fenômenos naturais e qualquer outra evento que explicações simples ainda não são atribuíveis.
A mitologia e as figuras mitológicas estão presentes e são proeminentes na maioria das religiões. O termo é freqüentemente associado às descrições de religiões fundadas por sociedade antigas como mitologia romana, mitologia grega, mitologia egípcia e mitologia nórdica.
Algumas histórias mitológicas podem nos trazer ensinamentos, revelar verdades fundamentais e pensamentos sobre a natureza humana, através do uso freqüente de princípios morais e sociais. Essas histórias expressam pontos de vista e crenças de um país, um período no tempo, cultura ou religião a qual lhes deu origem.
Todas as histórias apresentadas neste site possuem alguma relação contextual com o tema “Pé e Tornozelo”.
São compilações de várias fontes de informação sobre a mitologia mundial, principalmente dos trabalhos literários de dois gaúchos que escreveram a maior série de contos mitológicos do Brasil: A.S. Franchini e Carmem Seganfredo.
Boa Leitura!
O nome Édipo deriva de Oidos (inchados) e Pous (pés), isto é, pés inchados, pé machucados. Deformidade que se refere à criança abandonada e rejeitada, ao homem excluído, exilado, e ao velho mendigo sem rumo.
Édipo era filho de Laio e de Jocasta, o rei e a rainha de Tebas.
Segundo a lenda grega, Laio havia sido amaldiçoado por Pélops e alertado pelo Oráculo de Delfos que uma maldição iria se concretizar caso ele tivesse algum descendente: seu filho o mataria e se casaria com a própria mãe.
Com medo, logo após o nascimento de seu filho com Jocasta, Laio amarrou e feriu ambos os pés da criança e abandonou-a no monte Citeron. O menino foi achado por um pastor chamado Forbas, que lhe deu o nome de “Édipo”, o de “pés inchados”, e levou-o para ser adotado e criado pelo rei Pólibo, da cidade de Corinto.
Pastor Forbas com o pequeno Édipo - Antoine-Denis Chaudet (1801)- Museu do Louvre (Paris)
Quando jovem, durante uma festa no palácio de Corinto, Édipo ouve acusações de um bêbado que ele não seria filho legítimo de Pólipo e resolve viajar a Delfos para consultar o Oráculo sobre sua origem.
O Oráculo de Delfos não lhe responde objetivamente as perguntas, mas lhe dá a mesma sentença dada a Laio, que ele mataria seu pai e se casaria com sua mãe. Achando se tratar de seus pais adotivos, foge de Corinto.
No caminho, encontra uma comitiva real que lhe ordena que saia do caminho. Édipo ainda abalado com a previsão de seu destino reage contra a ordem e acaba matando o rei e seus homens, somente um pastor escapa da morte. Coincidentemente este rei era Laio, seu pai verdadeiro e o pastor, o homem que o salvou da morte no monte Citeron.
De volta a Tebas, cidade de Laio, Édipo deparou-se com um terrível flagelo que aterrorizava a cidade. Uma esfinge, monstro metade leão e metade mulher, que espreitava os viajante para lhes ameaçar: – Decifra-me ou te devoro !. E todos os que não conseguiam decifrar o enigma eram devorados pela fera.
A rainha de Tebas, Jocasta, após saber da morte do rei Laio, havia oferecido o trono e a própria mão em casamento ao homem que solucionasse o enigma e livrasse Tebas do terrível monstro.
Diante da feroz esfinge Édipo ouviu a seguinte pergunta: “Qual o ser que de manhã anda com quatro patas, ao meio dia com duas e ao entardecer com três ? “.
– É o homem ! – Disse Édipo. – Ao amanhecer é uma criança engatinhando, ao meio dia é um adulto, que usa ambas as pernas, e ao entardecer é um velho com seu arrimo.
A resposta enraivece a esfinge de tal forma que ela mesma devora-se.
Os cidadãos de Tebas recebem Édipo com deferência e o proclamam o novo rei da cidade após o casamento com Jocasta, sua mãe verdadeira. Os dois vivem em harmonia e geram quatro filhos: Antígona, Ismena, Etéocles e Polinices.
Mas com a ascensão de Édipo ao trono, calamidades de toda espécie, pestes, secas, fome e inundações alternavam-se e devastavam a cidade de Tebas. O novo rei decidiu enviar Creonte, irmão de Jocasta, para consultar o Oráculo de Delfos sobre a causa de tanta desgraça.
Creonte retorna com a resposta do oráculo: – O fim da desgraça só chegará no dia em que o responsável pela morte Laio for expulso de Tebas”.
Édipo imediatamente ordenou a busca, sem poupar esforços, pelo assassino de Laio. Mas, após muitas prisões e mortes, nada parecia melhorar a situação de Tebas.
Jocasta então sugeriu ao rei consultar o profeta Tirésias. O profeta reluta em revelar a identidade do assassino de Laio, mas é levado pela insistência de Édipo e diz : – Você, rei Édipo, é o assassino de Laio, seu próprio pai.
Édipo e Jocasta, marido e mulher, mãe e filho, entreolharam-se incrédulos.
Não conformado e acreditando ser um conspiração de Creonte e Tirésias, Édipo lembra do episódio onde assassinou a comitiva de um rei na estrada de Delfos e ordena que lhe tragam o pastor de Laio, único sobrevivente da trágica desavença.
Assim que o pastor chega a Tebas, confirma que o rei assassinado era Laio e que salvou da morte seu filho entregando-o ao rei de Corinto.
Jocasta inconformada com a revelação tranca-se em seu quarto e enforca-se. Édipo ao ver o corpo pendente de Jocasta, arranca um broche de seu vestido e fura ambos os olhos: – Assim como não tive olhos para ver os crimes que cometi também não os terei para ver mais nada neste mundo ! – Disse o rei, com as órbitas dilaceradas e o sangue escorrendo em seu rosto.
Os filhos de Édipo, Etéocles e Polinice, ao saberem da terrível revelação decidiram cumprir a profecia do Oráculo de Delfos. Jogam um manto sobre os ombros do pai cego e o levam até os limites da cidade de Tebas e o abandonam à própria sorte.
Entretanto, Antígona, com compaixão decidiu acompanhar o pai no exílio.
Charles François Jalabert - 1842 (Museu de Belas Artes - Roeun) e Antoni Brodowski - 1828 (Museu Nacional - Varsóvia)
Cego, velho e mendigo, Édipo chega a um bosque no distrito de Colono aos arredores de Atenas para repousar e morrer. Reconhece ser culpado do homicídio de um homem, mas não admite ter matado seu próprio pai e da relação incestuosa com sua mãe, pois tudo o que aconteceu foi sem o seu conhecimento.
Ismena, a outra filha de Édipo, chega ao encontro do pai e da irmã com a notícia que os seus irmãos, Etéocles e Polinices lutam ferozmente pelo trono de Tebas. Édipo decide não interferir na disputa e ganância dos seus filhos.
Jean Antoine Théodore Giroust - 1788 (Museu de Arte de Dallas) e Fulchran Jean Harriet - 1798 (Museu de Arte de Cleveland)
Édipo agora cego vê melhor do que quando possuía o sentido da visão. Sábio, solicita proteção a Teseu, rei de Atenas. Amparado pelas filhas até o fim de sua vida, Édipo morre com remorso e desgosto, transferindo sua benção ao rei Teseu e à cidade de Atenas.
Jean Baptiste Hugues (1849-1930) - Paris - Museu de Orsay
A mitologia refere-se ao estudo de mitos; histórias baseadas em tradições e lendas feitas para explicar o universo, a criação do mundo, fenômenos naturais e qualquer outra evento que explicações simples ainda não são atribuíveis.
A mitologia e as figuras mitológicas estão presentes e são proeminentes na maioria das religiões. O termo é freqüentemente associado às descrições de religiões fundadas por sociedade antigas como mitologia romana, mitologia grega, mitologia egípcia e mitologia nórdica.
Algumas histórias mitológicas podem nos trazer ensinamentos, revelar verdades fundamentais e pensamentos sobre a natureza humana, através do uso freqüente de princípios morais e sociais. Essas histórias expressam pontos de vista e crenças de um país, um período no tempo, cultura ou religião a qual lhes deu origem.
Todas as histórias apresentadas neste site possuem alguma relação contextual com o tema “Pé e Tornozelo”.
São compilações de várias fontes de informação sobre a mitologia mundial, principalmente dos trabalhos literários de dois gaúchos que escreveram a maior série de contos mitológicos do Brasil: A.S. Franchini e Carmem Seganfredo.
Boa Leitura!
Aquiles deu o nome ao termo calcanhar de Aquiles, devido ser este o seu ponto fraco. Também refere-se a um tendão da anatomia humana, o tendão calcâneo; o tendão mais forte do corpo e que se prende ao calcanhar (osso calcâneo).
Na mitologia grega Aquiles foi um herói da Grécia, um dos participantes da guerra de Tróia e o personagem principal e maior guerreiro da Ilíada, de Homero.
Aquiles era filho de Peleu, rei de Ftia, com a ninfa Tétis.
Tétis, a ninfa dos pés de prata, fora tomada por um sombrio presentimento durante a gravidez: que seu filho teria uma vida muito curta.
Ainda bebê, Aquiles foi levado por sua mãe até as margens do rio Estige onde o mergulhou nas suas águas milagrosas, pois dizia-se que tinham o poder de tornar invulnerável todo aquele que nelas se banhasse. Tétis banhou o corpo de seu filho segurando-o pelos pés, porém, por um descuido os calcanhares permaneceram secos e intocados pelas águas do rio.
O Batismo de Aquiles - Tela de Antonio Balestra e Escultura de Thomas Banks
Logo após este batismo, Aquiles foi entregue aos cuidados e ensinamentos do centauro Quíron, preceptor e mentor de muitos outros heróis como
Hércules, Jasão, Esculápio e o deus Apolo. Quíron treinou Aquiles e o alimentou com visceras de leão, para adquirir coragem, de urso, para ganhar força e de gazela, para tornar-se veloz.
Educação de Aquiles pelo Centauro Quíron - Telas de Jean Baptiste Regnault (1780) e Pompeo Batoni (1702)
Quando Aquiles completou nove anos, Tétis o levou ao adivinho Calcas para prever e assegurar o futuro de seu filho. Calcas declara que a cidade de Tróia jamais será conquistada sem a força de Aquiles, porém seus pés nunca pisarão o chão da cidade sagrada. Aos dezessete anos Aquiles havia se tornado o comandante do exército dos mirmidões, povo guerreiro oriundos da região de Tessália. Tétis então decide evitar ao máximo que Aquiles participe de qualquer guerra contra Tróia.
Tróia era uma cidade sagrada, comandada pelo rei Príamo e seus filhos, Heitor e Páris. Páris havia se apaixonado perdidamente por Helena, rainha de Esparta e esposa do rei Menelao, e acabou raptando-a e levando-a ao seu reino para torná-la Helena de Tróia.
Rapto de Helena - Tela de Francesco Primaticcio (1550) e Escultura do Castelo de Schönbrunn (Viena, Austria)
Agamenon, irmão do rei Menelao de Esparta, era o soberano da poderosa Argos e tomou as dores pelo rapto de sua cunhada Helena. Uniu sua frota e juntou-se ao exército de Menelao para partirem em direção a Tróia.
A notícia chegou ao castelo de Peleu e Tétis, pais de Aquiles. O rei, comprometendo-se com o pacto dos povos gregos, decidiu unir-se para combater Tróia.
Aflita pela possibilidade do jovem Aquiles participar da guerra, Tétis levou-o para a corte do rei Licomedes, na ilha de Ciros. Aquiles fugiu vestido de mulher e escondeu-se junto ao harém do rei, no qual conheceu e apaixonou-se pela princesa Deidâmia e dessa união nasceu Neoptolemo.
Em Argos, Agamenon e Menelao consultaram o adivinho Calcas: – Tróia jamais seria conquistada se Aquiles não estivesse combatendo lado a lado com o exército grego.
Ulisses e Diomedes, dois importantes guerreiros destacados para a campanha de Tróia, descobriram o esconderijo de Aquiles na ilha de Ciros e foram em sua busca. Armando uma falsa invasão ao harém do rei Licomedes, identificaram Aquiles quando este tomou as armas e assumiu a posição de ataque sem fugir da falsa ameaça dos dois guerreiros. No mesmo dia Aquiles partiu juntamente com Ulisses e Diomedes para a linha de frente contra Tróia.
Aquiles na Corte do Rei Licomedes - Gérard de Lairesse (1685)
Durante a guerra sangrenta, Aquiles matou o rei Mines e sequestrou sua esposa Hipodâmia, tornando-a escrava e pela qual acabou se apaixonando mais tarde. Porém, o comandante grego Agamenon mandou buscar Hipodâmia para ser sua escrava e esposa. Aquiles ofendido por esta desapropriação, retirou-se da batalha.
Agora Tróia, comandada por Heitor, filho do rei Príamo, massacrava e empurrava o exército grego em direção ao mar. Pátroclo, grande guerreiro e amigo de infância de Aquiles, na tentativa de convencê-lo a lutar e contrabalançar a guerra, pede emprestado sua armadura para lhe dar maior proteção na batalha.
Pátroclo, após lutar bravamente e matar muitos troianos, encontra Heitor e é surpreendido traiçoeiramente pelas costas, cai e, com um golpe de misericórdia, Heitor usa sua lança para atravessar o peito de Pátroclo.
Pátroclo e Menelao - Florença, Itália
Com a notícia da morte de seu fiel amigo, Aquiles, tomado pela ira, jura vingança e promete matar Heitor, decidindo então voltar ao campo de batalha.
Sobre sua carruagem de guerra, comandada por Automedonte e puxada pelo cavalos imortais Xantos e Bálios, Aquiles massacrou centenas de troianos que fugiam em direção aos portões de Troia. Heitor ao ver tal investida fugiu ao redor da muralha até desistir e parar para enfrentar Aquiles. De súbito, Aquiles ergueu sua lança forjada por Quíron e atravessou-a no pescoço de Heitor. Ainda com desejo de vingança, Aquiles amarra o corpo de Heitor pelos pés à sua carruagem e o arrasta em frente aos portões de Tróia.
Aquiles arrasta o corpo de Heitor em frente às muralhas de Tróia
Príamo, desolado, decide ir buscar o corpo do filho durante a noite e, guiado por Mercúrio, entra no acampamento grego para suplicar perante Aquiles. O rei de Tróia então clamou por um funeral justo para um príncipe guerreiro e Aquiles, admirando tal honra e coragem, concedeu o pedido do rei.
A guerra continuou por longos 9 anos de cerco e Aquiles, já impaciente com o seu desfecho, ordenou uma investida em massa contra as muralhas de Tróia. Erguendo sua lança comandou todas as tropas gregas contra os portões da cidade. Do alto das muralhas o rei Príamo e seu filho Páris acompanhavam apavorados o massacre de seus homens.
Quando apenas alguns soldados troianos restavam além dos portões a serem derrubados, a voz do deus Apolo resoou dos céus: ¬- Aquiles ! Volta os passos para trás, eis que já foi determinado pelos deuses que jamais vai colocar os pés dentro destas muralhas !
Aquiles, surdo às advertências dos deuses, continuava resoluto na sua investida. Apolo então pediu a Páris, que observava tudo do alto da muralha, para armar seu arco e lhe deu uma flecha divina.Páris então, puxou as cordas do seu arco e lançou a flecha guiada por Apolo, que atingiu o calcanhar direito de Aquiles.
O filho de Peleu e Tétis sentiu o pé fraquejar e aos poucos foi perdendo as forças até cair junto a um dos imensos portões de Tróia.
Estátua de Aquiles no palácio Achilleion em Corfu, Grécia
Começava neste instante uma outra batalha, comandada por Diomedes, Ájax e Ulisses. Este último, responsável pela arquitetura do plano fatal que derrubou a cidade sagrada, o cavalo de Tróia.
Aquiles foi cremado e suas cinzas depositadas junto às de Pátroclo, seu fiel companheiro. Segundo a mitologia, os deuses levaram Aquiles e Pátroclo para morar em uma ilha na foz do rio Danúbio, chamada de ilha Branca ou ilha de Leuca, onde, por muitos anos, marinheiros e adoradores de Aquiles deixaram oferendas para o imortal guerreiro grego.